Quem foi Júlio Resende?
Entre a figuração e a abstração, as obras de Júlio Resende (1917-2011) expressam uma transição de movimentos artísticos que acabam por se interligar. O pintor português retratou, de um modo pessoal, os seus gostos líricos nas experiências plásticas que efetuou. Iniciou a sua carreira como ilustrador em diversos periódicos, após concluir o curso de pintura em 1945 na Escola Superior de Belas-Artes do Porto. A fase expressionista iniciou-se com a ida para Paris, onde estudou técnicas de fresco e gravura. Entre 1949 e 1950, viveu em Viana do Alentejo onde trabalhou como professor, tendo desenvolvido nesta altura diversas composições dinâmicas que caracterizam o ambiente social e cultural deste espaço. Em 1951 estabeleceu-se no Porto, continuando a lecionar e mantendo a sua produção artística diversificada entre o expressionismo, o geometrismo, o gestualismo, neo-realismo, a não-figuração ou o neofigurativismo.
1. Pintor de transição de movimentos artísticos.
Júlio Resende foi um pintor de transição entre a figuração e a abstracção, movimentos diferentes mas se interligam na sua obra. Apresentou uma forte feição lírica, de um modo pessoal e sincrético reflexões sobre experiências plásticas diversas, como o expressionismo, o geometrismo, o gestualismo, a não-figuração ou o neo-figurativismo.
2. Um dos grandes nomes do neo-realismo nacional.
O reo-realismo foi uma corrente de vanguarda que denunciava as injustiças sociais, através de poesia, artes visuais e outras meios. O neo-realismo assume uma dimensão de intervenção social, agudizada pelo pós-guerra e pela sedução dos sistemas socialistas que o clima português de ditadura mitifica.
Entre 1949 e 1950, Júlio Resende começou a pintar temas que se baseiam nos ambientes e personagens que o rodeiam. Na década de 1950, o protagonista das suas obras passou a ser a gente do mar. De facto, as obras de Julio Resende representaram a vida da classe operária e cenas camponesas, demonstrando assim a consciência de classe e de luta de classes.
3. Foi influênciado pelas obras de Picasso e Goya.
Em 1946, recebeu uma bolsa de estudo do Instituto para a Alta Cultura e no ano seguinte partiu para Paris, onde estudou técnicas de fresco e gravura. O trabalho produzido no período parisiense, de pendor expressionista, foi exposto em Portugal em 1949, suscitando alguma apreensão por parte da crítica. Esta bolsa de estudo do Instituto para a Alta Cultura permitiu-lhe experiências pela Europa, em especial por Paris e Madrid. Teve assim contacto privilegiado com as obras de Picasso e de Goya, o que, segundo o próprio, despertou em si a atenção especial para a pintura abstracionista.
4. Foi pintor e também professor.
Durante a sua vida, partilhou sempre o seu tempo entre a arte e o ensino. Em 1949 e 1950 deu aulas em Viana do Alentejo e criou nesta altura pinturas cujas temáticas se baseiam nos ambientes e personagens que o rodeiam e que se caracterizam pelo dinamismo e plasticidade das composições.
Na década de 1950 o pintor fixou-se no Porto, partilhando sempre o seu tempo entre a arte e o ensino, mantendo assim sempre uma intensa actividade artística, ao participar em exposições e respondendo a encomendas para a realização de pintura mural, de painéis cerâmicos, de cenografias, de ilustrações. Por influência da região, a gente do mar passou a constituir o tema dominante da sua pintura, tendo apresentado as suas obras em exposições individuais em países como Espanha, Bélgica, Noruega e Brasil.
5. Júlio Resende criou painéis de azulejo e cerâmica, entre outros projetos de decoração.
Nos anos 1960, Resende interessou-se também por projetos de decoração e arquitetura, onde se destacam seis painéis em grés no Palácio da Justiça de Lisboa. No Porto, criou dois painéis cerâmicos para o Hospital de São João e ainda o gigantesco painel de azulejos "Ribeira Negra" existente à saída do tabuleiro inferior da Ponte de D. Luís I, acabando este painel por se tornar um dos seus trabalhos mais reconhecidos. Em Gondomar, encontra-se um fantástico painel de azulejos, localizado no centro da freguesia de Gondomar (São Cosme). O painel pode ser apreciado no Largo do Souto, junto ao anfiteatro.
6. A obra de Júlio Resende valeu-lhe inúmeros prémios e condecorações.
Em 1951, venceu o Prémio Especial da Bienal de São Paulo e, em 1959, voltou a surpreender, conseguindo uma menção honrosa. Dez anos mais tarde, voltou à Bienal de Artes de S. Paulo, acabando por vencer o Prémio Artes Gráficas, com as ilustrações do romance "Aparição", de Vergílio Ferreira.
Foi nomeado membro da Academia Real das Ciências, Letras e Belas-Artes Belgas, em 1972, e em 1982 recebeu as insígnias de Comendador de Mérito Civil de Espanha atribuídas pelo Rei de Espanha. Em Portugal foi distinguido com o Prémio AICA (Associação Internacional de Críticos de Arte) em 1985. A 23 de outubro de 1997, na presença do Presidente da República, Jorge Sampaio, teve lugar a sessão de abertura do Lugar do Desenho – Fundação Júlio Resende, instituição onde está reunido um espólio de cerca de dois mil desenhos, que o artista reuniu ao longo da sua carreira e que é hoje uma referência da cultura e da arte nacional.
7. A obra de Júlio Resende encontra-se nos principaos acervos de arte contemporânea.
Fora de Portugal, a obra de Resende está atualmente representada nas coleções da sede da Unesco em Paris, da Biblioteca Real Alberto I (Bruxelas), do Gabinete de Estampas de Antuérpia, do Ateneum Art Museum (Helsínquia, Finlândia), do Kunstforening Museum (Aalesund, Noruega) e do Museu de Arte Moderna de São Paulo – cidade onde obteria o 1.º Prémio de Artes Gráficas na X Bienal Internacional de São Paulo, em 1985. Em Portugal, encontramos Resende em alguns dos principais acervos de arte moderna e contemporânea, como as coleções dos museus nacionais de Soares dos Reis (Porto) e de Arte Contemporânea (Lisboa), a de Serralves (Porto) e a do Centro de Arte Moderna da FCG (Lisboa).