7 factos sobre Nadir Afonso
O artista português Nadir Afonso (1920-1965) foi pioneiro na abstração geométrica em Portugal, sendo uma figura fundamental para o modernismo deste país. Num período inicial de experimentação pictórica, através do figurativismo e da representação do real, percorreu uma estética surrealista que fez a passagem para o abstracionismo. Descobriu assim a sua atração pela pintura geométrica. O artista considerava que a arte, não era fruto da imaginação, mas da observação e manipulação da forma. Além de pintura, exerceu trabalhos de arquitetura, colaborando com arquitetos como Le Corbusier e Oscar Niemeyer. A sua produção artística é singular e fundamental para o estudo do modernismo em Portugal. Descubra mais sobre o artista neste artigo.
1.Nadir Afonso, filho do poeta Artur Maria Afonso
Nadir Afonso Rodrigues nasceu em Chaves a 4 de dezembro de 1920. Filho do poeta Artur Maria Afonso, natural de Montalegre, e de Palmira Rodrigues, natural de Boticas, e irmão de Lereno e de Fátima, esteve para se chamar Orlando, mas, por sugestão de um amigo do pai, foi registado com um nome de origem persa e hebraica. Nadir significa raro, em hebreu.
2.Formou-se em arquitetura antes de enveredar pela pintura.
Conhecemos Nadir Afonso como pintor, contudo em grandes períodos da sua vida dedicou-se à arquitetura. Depois de concluídos os estudos secundários em Chaves, partiu para o Porto, em 1938, a fim de ingressar no curso de Pintura da Escola de Belas Artes do Porto, mas, no momento da inscrição, foi aconselhado pelo funcionário da escola a esquecer a Pintura e a optar pela Arquitetura. Estudou Arquitectura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto e acabou por trabalhar nesta área. Contudo, a sua paixão pela pintura não esmoreceu. Nadir continuou a pintar, tendo se aproximando desta técnica por via de Dordio Gomes, pela participação nas exposições do Grupo dos Independentes, quer nas Missões Estéticas em Évora, sendo em 1940, a sua estreia a expor. Posteriormente, dedicou-se exclusivamente à pintura.
«Quando fui às Belas Artes do Porto, com 18 anos, levava debaixo do braço a minha inscrição como pintor. Tive a pouca sorte de encarar com um funcionário que viu que eu vinha de Chaves e diz-me: “então, com o curso dos liceus vai inscrever-se em pintura? Oh homem! a pintura não alimenta”. Isto há 70 anos. Cobardemente aceitei a sugestão: rasguei a inscrição em pintura e fiz o requerimento para arquitetura…Tirei o curso, fui para arquiteto mas fui sempre um desastre. Pintava desde os 4 anos. Tenho competência na pintura, mas nas diversas atividades que interessam aos homens, história, geografia, política. Só me dediquei a tentar compreender as leis da pintura.» — Nadir Afonso
3.Colaborou no atelier do famoso arquiteto Le Corbusier
Em 1946 fixou-se em Paris. Nesta cidade frequentou a École des Beaux-Arts, beneficiou de uma bolsa de estudo do governo francês, alcançada por intermédio do pintor brasileiro Portinari (1903-1962) e colaborou no atelier do famoso arquiteto Le Corbusier (pseudónimo de Charles-Edouard Jeanneret-Gris, 1887-1965). No ano seguinte, durante as manhãs, altura em que estava dispensado do trabalho no gabinete de arquitetura, trabalhou nas suas telas da fase Barroca, que pintava, entre outros locais, no atelier do pintor francês Fernand Léger (1881-1955). Em 1948 defendeu na ESBAP a tese "A Arquitectura não é uma Arte", orientada por Le Corbusier.
4.Autor de importantes obras públicas
Foi autor de importantes obras públicas como o projeto da Panificadora de Chaves (edifício de interesse municipal e uma das 100 obras mais significativas da arquitetura portuguesa do século 20), os painéis para a estação dos Restauradores do Metropolitano de Lisboa (1996), um painel de azulejos para a Estação Ferroviária de Coina (2006), realizou um painel de azulejos para os Paços do Concelho de Boticas (2009) e executou painéis em azulejo para o túnel de acesso à Praia em Cascais (2011).
5.Nadir Afonso – O tempo não existe realizado por Jorge Campos é um filme biográfico premiado
Jorge Campos realizou o primeiro filme sobre a sua vida e obra para a Radiotelevisão Portuguesa, galardoado com os prémios Gazeta da Televisão, Sampaio Bruno da Cultura e a Honourable mention do Club de Imprensa.Como refere Elsa Cerqueira: “O documentário Nadir Afonso – o tempo não existe é a objectivação de chamamentos díspares que se harmonizam. Por um lado, a obra cinematográfica é a resposta consentida, logo, previamente sentida, por parte do realizador Jorge Campos a uma espécie de chamamento interior que esteve latente cerca de duas décadas. Designá-la, apenas, como o regresso do realizador a Nadir Afonso é reduzir as harmonias criativas que se manifestam, no desenrolar do filme, ante o olhar do espectador-contemplador. Por outro lado, o processo criativo do artista Nadir Afonso é a resposta visceral ao chamamento inventivo-criativo que a obra reivindica. E a primeira dificuldade para o realizador consistiu em saber escutar estes apelos, endógenos e exógenos, espelhando-os harmoniosamente no filme. Jorge Campos percebeu, com mestria, que Nadir Afonso-artista é indissociável de Nadir Afonso-homem, transformando a câmara de filmar na escolta segura do imperativo da autenticidade.”
6.A obra de Nadir Afonso é pautada por vários períodos
Nadir Afonso é autor de uma obra singular, estruturada no contexto artístico internacional com consistente pioneirismo e um dos artistas de maior relevo da arte do século XX e XXI. Nadir Afonso defende na sua arte uma estética que pressupõe a relação das leis geométricas, leis universais que existem na Natureza indispensáveis ao alcance da harmonia, e a relação mutável das funções e necessidades que permitem determinar as leis evolutivas, não especificas da obra de arte. Este processo é sustentado pela reflexão e análise teórico-filosófica, de formulação própria e o consequente trabalho prático como fio condutor para uma metodologia racional.
Durante a sua carreira artística teve vários períodos: primeira modernidade, período surrealista, período barroco, pré-geométrico, período egípcio, espacillimité, período ogival, período perspectivo, período antropomórfico, organicismo, período fractal e realismo geométrico.
7.Foi criado um museu em seu nome
O pintor, que morreu em 2013, já não viu o Museu de Arte Contemporânea com o seu nome nascer na sua cidade natal e receber parte da sua obra. Inaugurado em 2016, localiza-se na margem direita do rio Tâmega, junto à Ponte de São Roque. É um espaço de fruição cultural de excelência, constituído por diversos espaços, salas de exposições temporárias e permanentes, auditório, arquivo, biblioteca e loja. Um espaço de características excecionais, moderno e único, para homenagear o génio do pintor flaviense Nadir Afonso.