Arte e a Comunidade LGBTQIA+
Ao longo dos séculos, a arte tem sido um veículo de comunicação das experiências, histórias, além de ser uma forma de expressão da identidade, de uma pessoa ou de uma cultura. Na Grécia Antiga, ao contrário de outras culturas, a atração sexual masculina era normal e natural. Essas relações homoeróticas encontravam-se presentes na arte, seja na poesia, como nas artes plásticas (frequentemente eram pintados vasos com atos sexuais). Atualmente, a comunidade LGBTQIA+ encontra-se gradualmente a ganhar uma maior visibilidade e a ser mais aceite. Do século XX até ao presente, diversos artistas têm usado a arte como meio de expressão para provocar uma mudança na percepção social sobre várias temáticas, como o género, a orientação sexual, a identidade e o corpo. Descubra neste artigo, sete artistas que conceberam, através da sua identidade e produção artística, um aumento na visibilidade e libertação da comunidade LGBTQIA+.
1. Claude Cahun
Claude Cahun foi um fotógrafo surrealista, cujo trabalho explorou a identidade de género e o subconsciente. Nasceu em 1894 em Nantes, como Lucy Schwob, mas durante a sua vida adotou o nome de Claude Cahun. Foi um dos primeiros artistas a abraçar por completo a fluidez de género, muito antes do termo entrar em uso. Nos seus auto-retratos é concebida a ideia da sua atitude e identidade, devido às suas roupas que não parecem convencionalmente masculinas, nem femininas, além do seu olhar desafiador e frontal para a câmara. O seu trabalho inspirador deixou uma grande marca na fotografia e influenciou diversos artistas contemporâneos, como Cindy Sherman, Gillian Wearing e Nan Goldin. Atualmente, os seus trabalhos encontram-se presentes em múltiplas coleções de instituições museológicas como o Museu de Arte Moderna de Nova York, o Museu de Arte Moderna de São Francisco e o Museu de Belas Artes de Boston, entre outros.
Auto-retrato de Claude Cahun
2. Andy Warhol
Andy Warhol foi um artista multidisciplinar, conhecido pela sua produção artística no movimento Arte Pop americano, além dos trabalhos como cineasta e designer gráfico. As suas obras, desde as latas de sopa Campbell, às gravuras de celebridades, incluindo Marilyn Monroe, Elvis e Elizabeth Taylor, são uma crítica sobre o materialismo, capitalismo e o glamour das décadas de 1960 e 1970. O seu trabalho foi fortemente influenciado pela cultura gay underground, tendo frequentemente produzido fotografias eróticas com nus masculinos. Andy Warhol continua até ao presente a ser uma figura icónica da história da arte e da comunidade LGBTQIA+.
Retrato de Andy Warhol em Drag
3. Keith Haring
Keith Haring foi um dos principais artistas do movimento Arte Pop, ao produzir imagens que comunicam facilmente com o grande público. Após ser diagnosticado com SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) em 1988, o artista começou intensamente a promover a compreensão sobre esta doença, através da sua produção artística. Também fundou a Keith Haring Foundation, como forma de educar, prever e sensibilizar as pessoas sobre a SIDA. A sua carreira fora breve devido à doença, contudo bastante intensa, continuando até hoje a marcar a história, com as suas imagens coloridas, provocativas e socialmente conscientes.
Ignorance = Fear / Silence = Death de Keith Haring, 1989
4. Robert Mapplethorpe
Robert Mapplethorpe foi um fotógrafo americano conhecido pelos seus retratos a preto e branco, que expressam os aspectos clássicos da beleza, a partir nus, naturezas mortas ou auto-retratos. Em 1990, realizou-se The Perfect Moment, a sua primeira exposição a ser criticada pela pornografia e obscenidade. Embora Robert Mapplethorpe não concordasse com as alegações sobre as suas fotografias serem provocativas e chocantes, o seu trabalho foi criticado, criando uma discussão nacional sobre se o governo dos EUA deveria financiar as artes em tudo. O legado de Robert Mapplethorpe continua atualmente a agitar o mundo, desafiando constantemente as noções tradicionais e reafirmando o direito à liberdade de expressão.
Auto-retrato de Robert Mapplethorpe
5. Annie Leibovitz
Nos últimos quarenta anos, a fotógrafa Annie Leibovitz produziu retratos íntimos de diversas figuras como Demi Moore, John Lennon, Yoko Ono, entre outros. As suas fotos revelam um lado pessoal da vida das celebridades, frequentemente demonstrando e expressando a sua vulnerabilidade e sexualidade, através do nu artístico. Um dos seus trabalhos mais pessoais e comoventes são os retratos da sua companheira, Susan Sontag. Produzidos ao longo de um período de quinze anos, os retratos variam, contando assim a história da sua vida em conjunto. Em ambas as vertentes, comercial ou pessoal, Annie Leibovitz sensibiliza o público e dá voz à comunidade LGBTQIA+.
Auto-retrato de Annie Leibovitz
6. Mário Cesariny
O Estado Novo dizia que não havia homossexuais, mas perseguia-os. Este foi o caso de Mário Cesariny, um dos mais importantes membros do surrealismo português e uma figura incontornável do século XX. O artista foi várias vezes preso em rusgas a urinóis e sujeito a humilhações pela polícia. Contudo, na sua produção artística, Mário Cesariny teve a possibilidade de expressar intensamente os seus sonhos e desejos. Através das suas obras surrealistas, foi-lhe concebida uma liberdade para a homossexualidade, que acabou por influenciar os trabalhos das gerações seguintes.
Retrato de Mário Cesariny
7. Zackary Drucker
Zackary Drucker é uma artista multidisciplinar, cujo trabalho abrange fotografia, performance, filme e instalação. A sua prática artista concentra-se principalmente em temas como corpo, sexualidade e género, bem como os aspectos ocultos sobre a história do que é ser transgénero, por meio de factos e da sua própria identidade sexual. Zackary Drucker e Rhys Ernst, seu companheiro, documentaram juntos a sua transição de género, por meio de uma incrível série de fotos chamada Relationship. Este projeto oferece uma percepção fundamental e bastante íntima sobre um processo tão importante.
Relationship de Zackary Drucker