A artista mexicana Frida Kahlo marcou a história devido ao seus magníficos auto-retratos com uma dimensão forte que influenciaram a visão sobre o feminismo, a homossexualidade e a cultura mexicana pelo mundo. Com cores vibrantes envolvidos nos traços culturais latinos, a pintora retratou os acontecimentos da sua vida, os seus relacionamentos, sofrimentos, as questões íntimas femininas como o aborto, além das suas convicções políticas e culturais. Neste artigo é explorada a intensa vida de uma das mais importantes pintoras mexicanas do século XX, a partir de dez pinturas.
1. My Grandparents, My Parents, and I (Family Tree) de Frida Kahlo, 1936
Iniciamos este percurso pelo o mundo de Frida Kahlo, através da pintura My Grandparents, My Parents, and I (Family Tree). Magdalena Carmen Frida Kahlo Calderón nasceu em 6 de julho de 1907 na Cidade do México, na casa conhecida atualmente como La Casa Azul. De uma forma característica, a artista representou as suas origens, ao se auto-retratar na parte inferior, como uma criança nua com os pés no interior da casa onde habitou a maior parte da sua vida. Esta figura segura um laço que conta a história genealógica de Frida Kahlo, com representações dos pais e os avós, na parte superior da pintura.
2. The bus de Frida Kahlo, 1929
Em The bus, a pintora representou um dos momentos fulcrais da sua vida, o acidente no autocarro, a 17 de setembro de 1925. Este transformou por completo a sua forma de viver, pois esta ficou com lesões na coluna, entre outros problemas como a mobilidade bastante reduzida. Na pintura é representado, o momento anterior ao acidente, com os passageiros calmamente sentados. Frida Kahlo nunca retratou o acontecimento de forma direta, mas representou as consequências que este teve no seu corpo e no seu modo de viver.
3. The broken column de Frida Kahlo, 1944
The broken column é uma das pinturas que conta a dor e sofrimento sentidos pela artista, devido aos ferimentos que o acidente de autocarro provocou no seu corpo. Esta obra foi pintada quando Frida Kahlo esteve acamada e presa a um espartilho metálico, após uma das cirurgias à sua coluna vertebral. A pintora mexicana representou-se de pé no meio de uma paisagem fragmentada, com o tronco envolvido por faixas metálicas revestidas de pano, que fornecem pressão e apoio às suas costas, impedindo assim a ruptura do seu corpo. A sua coluna vertebral é substituída por uma coluna jônica, estando a sua cabeça apoiada num capitel. Embora o seu corpo esteja envolvido por sinais de dor, como os pregos e as lágrimas, a cara da pintora permanece séria e sem sinais de sofrimento, demonstrando assim a sua atitude perante a própria vida, forte e desafiadora.
4. Frieda and Diego Rivera de Frida Kahlo, 1931
«Houve dois grandes acidentes em minha vida, escreveu certa vez Frida Kahlo em seu diário: o terrível acidente que a deixou "quebrada" e a época em que conheceu Diego Rivera, que literalmente se tornou o amor da sua vida.»
A pintura “Frieda and Diego Rivera” representa a união matrimonial dos dois, que aconteceu em 1929. Na altura da criação desta obra, Frida Kahlo e Diego Rivera viviam nos Estados Unidos da América, pois o artista mexicano encontrava-se a pintar os murais na Bolsa de Valores de São Francisco e na Escola de Belas-Artes de São Francisco. Na pintura, Diego Rivera segura uma paleta e quatro pincéis na mão direita, enquanto Frida Kahlo segura o seu xaile vermelho com a mão esquerda, inclinando a cabeça para o seu marido. Os dois encontram-se parados a dar as mãos, olhando de forma frontal para o espectador. Na parte superior, encontra-se um pombo que segura uma faixa onde se lê: “Here you see us, me Frieda Kahlo, with my dearest husband Diego Rivera. I painted these pictures in the delightful city of San Francisco California for our companion Mr. Albert Bender, and it was in the month of April of the year 1931.”
5. Self-Portrait with Thorn Necklace and Hummingbird de Frida Kahlo, 1940
Frida Kahlo produziu diversos retratos acompanhada com os seus animais preferidos, papagaios, cães, entre outros, que substituíram a presença dos filhos que a artista não pode ter. Nesta pintura Frida Kahlo apresentou-se com um olhar sério e firme, enquanto que é rodeada por vegetação e diversos animais: um gato, um macaco e várias borboletas no seu cabelo.
6. Henry Ford Hospital de Frida Kahlo, 1932
Aos seis anos, Frida Kahlo teve poliomielite, uma doença que danificou o seu útero e a incapacitou de ter filhos. Em 4 de julho de 1932, a artista mexicana sofreu um aborto espontâneo em Detroit em sua casa. Como o seu corpo não resistiu, acabou por ser levada para o Hospital Henry Ford. Nesta pintura, Frida Kahlo retratou o momento íntimo de sofrimento, ao demonstrar a sensação de desamparo, a partir do seu corpo nu, torcido e cheio de sangue. A cama inclinada para cima, numa paisagem deserta aumenta e transparece a sensação de desconforto e solidão. O estômago segura vários fios vermelhos, semelhantes aos cordões umbilicais, que demonstram os seus problemas reprodutivos - útero, flor e bebé - e quanto esta operação demorou, através do caracol. Hospital Henry Ford foi a primeira pintura em que Frida usou como suporte uma chapa metálica, como nos retábulos mexicanos.
7. Auto-retrato dedicado a Leon Trotsky, 1937
A pintora mexicana é conhecida pelos seus auto-retratos que contaram a história da sua vida, bem como as suas reflexões sobre política e a identidade cultural. Neste retrato Frida Kahlo representou-se de uma forma elegante com uma longa saia bordada, com xaile de franjas e flores no seu cabelo. Nas suas mãos segura um ramo de flores e uma carta escrita para Trotsky que refere: “Para Leon Trotsky, com todo o meu carinho, dedico esta pintura, no dia 7 de novembro de 1937. Frida Kahlo. Em San Ángel, México". Este auto-retrato dedicado a Leon Trotsky celebra o breve romance vivido entre os dois. O líder revolucionário russo Leon Trotsky, foi para o México em 1937, onde permaneceu exilado até ser assassinado, em 1940. Embora a pintura revela uma temática política internacional, os elementos apresentados são da cultura mexicana, num cenário auto encenado em que Frida Kahlo é a protagonista.
8. The Two Fridas de Frida Kahlo, 1939
A pintura The Two Fridas expressa os sentimentos de tristeza e solidão da pintora, após a separação com Diego Rivera. Entre o céu agitado e turbulento, são retratadas duas personalidades de Frida Kahlo dando as mãos. Uma é a tradicional Frida Kahlo num traje tehuana, com o coração partido, sentada ao lado de uma Frida mais independente, vestida de forma moderna. Ambas têm corações visíveis, contudo a “Frida tradicional” encontra-se ensanguentada com o coração cortado e aberto, demonstrando a sua vulnerabilidade e desespero. O casal acabou por voltar a casar e ficaram juntos até Frida Kahlo falecer.
9. Self-Portrait with Cropped Hair de Frida Kahlo, 1940
Neste auto-retrato, Frida Kahlo abandonou os atributos femininos, substituindo os tradicionais vestidos tehuana bordados e as flores no cabelo, por um fato masculino largo e um corte de cabelo curto. Permanece o olhar direto que confronta o espectador, além dos sapatos de salto alto e os brincos de ouro. À sua volta, encontram-se os fios de cabelo que a própria artista cortou, de forma a simbolizar a sua androgenidade mas também a separação com Diego Rivera. Na parte superior, a artista escreveu “Mira que si te quise, fué por el pelo, Ahora que estás pelona, ja no te quiero.” (Olha se eu te amei, foi por causa do seu cabelo. Agora que você está careca, eu não te amo.)
10. Vida la Viva de Frida Kahlo, 1954
A última pintura produzida por Frida Kahlo foi Viva la Vida, Melancia, uma natureza morta que exprime a efemeridade da vida. Com ricos contrastes de cores, curvas e ângulos, esta pintura expõe uma intensa mensagem de forma praticamente irónica: "Viva a vida longa”. Este fruto de casca dura mas com interior macio, é comparado à própria artista, que teve que desenvolver uma pele forte para suportar as dores da vida mas no seu interior permanecia com um grande lado criativo, repleto de cores vibrantes. Na mitologia as sementes das melancias simbolizam tanto a fertilidade quanto a imortalidade, pois estas carregam a promessa de uma nova vida para a eternidade. Apesar da vida de Frida Kahlo ter sido curta, as suas sementes continuam a fertilizar o campo da arte.