O semanário Expresso noticiou que o futuro da CHPR estaria "em risco", porque as pinturas que se encontravam em empréstimo têm estado a ser "gradualmente retiradas", e recordou um alerta feito em 2020 pelo colecionador de arte Francisco Capelo, sobre um "esvaziamento progressivo" da casa dedicada à obra da pintora.
Questionado pela Lusa sobre estes alertas, Salvato Teles de Menezes disse que, de acordo com o protocolo da criação da Casa das Histórias Paula Rego e da sua renovação, até 2029, "embora a Câmara de Cascais seja a proprietária do acervo, não pode vender nenhuma das suas obras", inicialmente composto por 535 gravuras e desenhos, e ao qual a própria pintora fez mais doações, nomeadamente de 28 gravuras, em 2019.
Paula Rego morreu a 8 de junho de 2022, em casa, rodeada pelos filhos e, nesse mesmo dia, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, depois de manifestar pesar pelo desaparecimento da pintora, destacou a importância da compra de obras da artista pela Fundação Calouste Gulbenkian, pedindo ao Estado e privados que completassem essa iniciativa.
Em janeiro deste ano, a Gulbenkian tinha anunciado a aquisição das obras de Paula Rego "O Anjo", de 1998, e "O Banho Turco", de 1960, duas das mais emblemáticas do percurso da pintora, tornando-se a instituição privada com "o maior e mais significativo acervo da artista, constituído por 37 obras", sublinhou, na altura.
Agora a Câmara de Cascais anunciou que vai comprar este ano duas obras de Paula Rego (1935-2022), intituladas "Day" e "Night", para o acervo da Casa das Histórias, dedicada à divulgação da obra da artista, revelaram fontes ligadas a esta entidade. Contactado pela agência Lusa, o presidente da Fundação D. Luís I, Salvato Teles de Menezes, membro da comissão paritária responsável pela atividade da Casa das Histórias Paula Rego (CHPR), em conjunto com Nick Willing, filho da pintora, precisou que a negociação com a família da artista decorria há algum tempo.
De acordo com Teles de Menezes, estas serão as primeiras obras de pintura adquiridas pela autarquia para o acervo da CHPR, inaugurada em 2009 para acolher, preservar e divulgar a obra da artista plástica portuguesa, composto atualmente por cerca de 600 gravuras e desenhos, contando com o universo inicial e doações posteriores da pintora - um acervo protegido pelo protocolo fundador, renovado até 2029.
"Há algum tempo que a câmara tem vindo a manifestar a intenção da aquisição à família de Paula Rego, e deverá ser concretizada até à inauguração da próxima exposição dedicada à obra da artista", uma das mais conceituadas pintoras portuguesas, falecida em junho, em Londres, aos 87 anos.
Prevista para inaugurar a 27 de outubro, a exposição terá por título "Histórias de Todos os Dias: Paula Rego—Anos 70", com obras da pintora, provenientes de Londres e do acervo da CHPR, em paralelo com outra mostra, em diálogo com obras da artista Salette Tavares (1922-1994).
Contactado pela Lusa, Nick Willing confirmou a negociação com a Câmara Municipal de Cascais, e que as duas obras em causa, "de grandes dimensões, criadas nos anos 1950, são emblemáticas" do percurso de Paula Rego. Disse ainda que, embora tenham sido pintadas em Londres, estiveram expostas nas paredes da fábrica do pai da artista, em Lisboa.
"O nosso interesse é vender algumas obras a preços mais acessíveis ou doá-las a instituições que as acolham com as melhores condições, e que nos garantam que serão expostas ao público. Esse é o nosso principal objetivo", disse o realizador, acrescentando que a família de Paula Rego quer "tentar também, sempre, que as obras vendidas sejam expostas na Casa das Histórias". Estas serão as primeiras obras de pintura adquiridas pela autarquia para o acervo da CHPR, inaugurada em 2009 para acolher, preservar e divulgar a obra da artista plástica portuguesa.