Quem é o artista Daciano da Costa?
Daciano da Costa foi um dos mais destacados designers em Portugal e desempenhou um papel fundamental na afirmação e institucionalização do design no país. O arquiteto, pintor, designer e professor português nasceu em Lisboa, em 1930, e faleceu na mesma cidade em 2005.
Daciano da Costa iniciou a sua formação na Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa, completando posteriormente o curso de pintura na Escola Superior de Belas-Artes da mesma cidade. Durante a década de 1950, colaborou com o arquiteto e pintor Frederico George, onde desenvolveu uma sensibilidade pelos processos sistemáticos e racionais do projeto.
Em 1959, estabeleceu o seu próprio atelier em Lisboa e abandonou a pintura para se dedicar ao design industrial, design de interiores e design corporativo. Ao longo da sua carreira, Daciano da Costa aproximou-se das principais referências internacionais do design e adaptou os seus princípios e conceitos ao contexto português, combinando conhecimento histórico com uma abordagem contemporânea.
Foi responsável por projetos de arquitetura de interiores, equipamento e mobiliário para diversos espaços emblemáticos em Portugal, como a Reitoria da Universidade de Lisboa, a Fundação Calouste Gulbenkian, a Biblioteca Nacional, o Teatro Villaret e a Casa da Música. Além disso, teve uma colaboração de quase trinta anos com a Metalúrgica da Longra, desenvolvendo linhas de mobiliário para escritório.
Daciano da Costa também desempenhou um papel importante na institucionalização do design em Portugal. Foi um dos sócios fundadores da Associação Portuguesa de Designers (APD) e participou ativamente na divulgação e promoção da disciplina. Como professor, contribuiu para o desenvolvimento do ensino do design na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa e coordenou o curso de Licenciatura em Design.
Ao longo da sua carreira, Daciano da Costa recebeu vários prémios e distinções, pelos os seus projetos e contribuições para o campo do design. Em 1998 foi nomeado Professor Catedrático e em 2003 recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Aveiro, e um ano mais tarde da Universidade Técnica de Lisboa. A sua obra foi reconhecida pela sua qualidade estética, a sua abordagem equilibrada e a sua capacidade de combinar a tradição com a modernidade. A sua contribuição foi fundamental para a consolidação do design como uma área profissional e académica no país.
Quais são as características das obras de Daciano da Costa?
As obras de Daciano da Costa são caracterizadas por várias características distintivas. Aqui estão algumas das principais:- Modernidade: Daciano da Costa foi um dos pioneiros na introdução do design moderno em Portugal. Incorporou as tendências internacionais do movimento moderno nas suas criações, adaptando-as aos recursos e às limitações locais. As suas obras refletiam uma estética contemporânea e uma abordagem inovadora.
- Ecletismo: Embora enraizado na modernidade, Daciano da Costa também era conhecido pela sua abordagem eclética. Combinava influências de diferentes estilos e correntes artísticas, criando uma fusão única de elementos tradicionais e contemporâneos. Essa mistura de estilos contribuiu para a singularidade e originalidade das suas obras.
- Equilíbrio e harmonia: Daciano da Costa procurava o equilíbrio e a harmonia nas suas criações. Considerava a proporção, os detalhes, os materiais, as cores e as texturas como elementos-chave na procura pela harmonia visual e sensorial. Através de uma combinação cuidadosa de elementos visuais.
- Funcionalidade e pragmatismo: Como designer industrial, Daciano da Costa estava comprometido com a funcionalidade e a praticidade das suas criações. Projetou móveis, equipamentos e objetos que atendiam às necessidades do utilizador, combinando estética e usabilidade. O seu pragmatismo era evidente na sua abordagem realista e sensata para o design.
- Integração com o ambiente construído: Daciano da Costa tinha uma visão abrangente do design, entendendo que todos os objetos fazem parte da construção do ambiente humano. As suas obras consideravam o contexto em que estavam inseridas, tanto em termos físicos quanto culturais. Procurava criar objetos que se relacionassem harmoniosamente com o seu entorno, complementando e enriquecendo o ambiente construído.
Quais foram as influências de Daciano da Costa?
Daciano da Costa foi influenciado por várias correntes artísticas e designers ao longo da sua carreira. Aqui estão algumas das principais influências que moldaram o seu trabalho:- Movimento Moderno: Daciano da Costa foi profundamente influenciado pelas ideias e estética do Movimento Moderno, que emergiu no início do século XX. Inspirou-se nas obras de arquitetos e designers modernistas, como Le Corbusier, Ludwig Mies van der Rohe e Charles Eames. O movimento enfatizava a funcionalidade, a simplicidade e a estética contemporânea, princípios que Daciano da Costa incorporou nas suas próprias criações.
- Bauhaus: A Bauhaus, uma escola de design, arte e arquitetura fundada na Alemanha, teve uma influência significativa sobre Daciano da Costa. Através dos princípios da Bauhaus, como a integração das artes, a experimentação com materiais e a fusão de arte e indústria, incorporou uma abordagem interdisciplinar e pragmática no seu trabalho.
- Artesanato tradicional português: Daciano da Costa também se inspirou nas tradições artesanais e culturais de Portugal. Valorizava os métodos tradicionais de produção e os materiais locais, incorporando-os nas suas criações de forma contemporânea. Essa fusão entre o artesanato tradicional e a estética moderna resultou num estilo distintivo nas suas obras.
- Arquitetura e design escandinavos: Daciano da Costa também se inspirou na arquitetura e no design escandinavos. Apreciava a simplicidade, a funcionalidade e o minimalismo característicos dessas correntes, e os incorporava no seu próprio estilo. A estética escandinava influenciou a sua abordagem à forma, aos materiais e à paleta de cores.
Os temas e conceitos recorrentes na obra de Daciano da Costa
"Quando se produz uma forma, independentemente de cumprir uma função, ela destina-se à fruição. E exactamente aí, nessa sua dimensão, que está sujeita a avaliações estéticas. Todavia considero o design uma estética da ética." Daciano da Costa, 1998. Design e Mal-Estar.”Na obra de Daciano da Costa, podem ser identificados alguns temas e conceitos recorrentes que permeiam as suas criações. Esses temas refletem a sua visão sobre design, arquitetura e sociedade. Aqui estão alguns dos temas e conceitos mais presentes no seu trabalho:
- Funcionalidade: Daciano da Costa valorizava a funcionalidade nas suas criações. Acreditava que o design deveria atender às necessidades práticas e ergonomicas das pessoas, procurando soluções inteligentes e eficientes. As suas obras eram projetadas para serem utilizadas e apreciadas no quotidiano, combinando forma e função de maneira equilibrada.
- Integração entre arte e indústria: Daciano da Costa compartilhava o ideal modernista de integrar a arte e a indústria. Procurava criar produtos e espaços que fossem acessíveis ao maior número de pessoas, incorporando técnicas industriais e produção em série. Ao mesmo tempo, não abria mão do valor estético e artístico, equilibrando a produção em massa com a qualidade e o design cuidadoso.
- Valorização do artesanato e da cultura local: Mesmo com a sua inclinação para o design industrial, Daciano da Costa valorizava as raízes culturais e o artesanato tradicional. Incorporava elementos e técnicas do artesanato local nas suas criações, juntando tradição e contemporaneidade. Essa valorização do artesanato contribuía para a preservação das identidades culturais e para a criação de uma linguagem própria nas suas obras.
- Estética contemporânea: As obras de Daciano da Costa refletiam uma estética contemporânea e atualizada. Explorava formas simples e geométricas, linhas limpas e proporções equilibradas. A sua abordagem minimalista e sofisticada conferia um aspecto atemporal às suas criações, adotando uma linguagem visual clara e direta. A prova disso é que ainda hoje as peças de Daciano da Costa são admiradas e utilizadas.
Como Daciano da Costa desafiou os valores tradicionais?
Daciano da Costa foi um designer e arquiteto português que desafiou os valores tradicionais por meio das suas criações inovadoras e abordagem arrojada. A sua visão revolucionária sobre design e arquitetura rompeu com as convenções estabelecidas, questionou as normas e encontrou novas perspectivas.
Daciano da Costa defendia a importância de projetar objetos e espaços que atendessem às necessidades práticas das pessoas. Acreditava que o design deveria ser voltado para a vida quotidiana, proporcionando soluções inteligentes e eficientes.
Além disso, Daciano da Costa desafiou os valores tradicionais ao integrar a arte e a indústria. Enquanto a produção artesanal era amplamente valorizada, apostou na produção em série e nas técnicas industriais.
Outra forma pela qual Daciano da Costa valorizava o artesanato local e da cultura tradicional. Enquanto muitos designers da época se voltavam para o design internacional, Daciano da Costa procurou incorporar elementos e técnicas do artesanato português nas suas obras. Essa abordagem celebrava a identidade cultural e contribuía para a preservação das tradições, desafiando a ideia de que o design contemporâneo deveria ser dissociado das raízes locais.Exemplo disso foi o desenho do Sistema de mobiliário em madeira destinado às habitações de funcionários bancários do Banco Nacional Ultramarino (1963), localizadas em zonas de recursos restritos - no interior do país ou nos territórios das antigas colónias portuguesas.O projecto foi desenvolvido tendo em vista a possibilidade de realizar a construção nos locais de destino usando materiais que aí estariam previsivelmente disponíveis. Assim, se justificam os materiais utilizados na construção da Cadeira BNU e a opção pela construção artesanal, a madeira maciça e o bunho.
Qual é o legado artístico de Daciano da Costa?
O legado artístico de Daciano da Costa é notável e abrangente, tanto no campo do design quanto da arquitetura. As suas contribuições inovadoras e sua abordagem revolucionária deixaram uma marca duradoura no cenário artístico e influenciaram gerações posteriores.
Na arquitetura, Daciano da Costa deixou a sua marca em projetos de grande relevância. Projetou edifícios comerciais, residenciais, institucionais e culturais:Reitoria da Universidade de Lisboa 1960 - Teatro Villaret, Lisboa 1964 - Biblioteca Nacional, Lisboa 1968 - Casino Estoril, Lisboa 1966 - Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa 1966 - Hotel Alvor-Praia, Algarve 1967 - Hotel Madeira Hilton Palace, Funchal 1970 - Laboratório Nacional de Engenharia Civil 1971 - Hotel Altis, Lisboa 1971 - Hotel Penta, Lisboa 1975 - Casino Park Hotel, Funchal 1972 - Terminal aéreo 2, Lisbon 1980 - Agência da Caixa Geral de Depósitos, Rossio 1983 - Centro Cultural de Belém, Lisboa 1990 - Coliseu dos Recreios, Lisboa - Paços do Concelho, Lisboa 1997 - Madeira Crown Plaza Resort Hotel, Funchal 1998 - Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa 1999 - Casa da Música , Porto 2005.
Em alguns destes espaços ainda podemos ver os vestígios do projeto de Daciano da Costa. Ainda em vida (2003), Daciano da Costa firmou com o Estado Português um Contrato de Comodato do seu arquivo documental, testemunho da relevância pública da sua atividade criadora e parte do património cultural do país.
Em 2013, após oito anos desde a morte de Daciano da Costa, o Atelier Daciano da Costa assumiu uma nova direcção com Inês Cottinelli, uma das suas cinco filhas, com a missão de preservar e comunicar o seu legado, permitindo que a memória de Daciano perdure a nível nacional e internacional.
O Atelier traçou um plano ambicioso que tem vindo a desenvolver através de ações que vão da conservação do património e das parcerias institucionais com entidades culturais e museus à comunicação para divulgação em eventos e exposições de divulgação nacional e internacional, até à produção de reedições que visam tornar-se um modelo de negócio sustentável.
As reedições de peças que foram originalmente concebidas por Daciano da Costa para obras específicas visam revalorizar objetos que poderão ser hoje introduzidos em novos ambientes, tanto pela mão de profissionais como de clientes particulares, desse modo promovendo novas leituras de objetos existentes.
O mobiliário da Casa da Música (2005), projetada por Rem Koolhaas, foi a última obra que Daciano da Costa acompanhou em vida e é para nós um exemplo de que tal é possível.
No âmbito do projeto do Atelier Daciano da Costa de comunicar e estender a obra de Daciano da Costa, este encontra-se agora presente nos seguintes museus:
MUDE- Museu do Design e da Moda, Coleção Francisco Capelo. Depósito de Colecção museológica constituído por um conjunto de peças de design, maquetas e modelos provenientes da colecção particular.
Centre Pompidou, Centre National d’Art et de Culture - Em 2015 foi celebrado um contrato de doação entre esta instituição e o atelier, constituído por uma peça de design, a poltrona Boroa II e seis desenhos originais do modelo provenientes da coleção particular passando a integrar a colecção permanente do Museu.
Vitra Design Museum - Em 2022 foi celebrado um Contrato de Doação entre o Museu e o Atelier Daciano da Costa de duas peças de design provenientes da colecção particular do atelier: uma reedição da cadeira Alvor (1967) e original da cadeira Quadratura (1971) passando a incorporar a colecção daquele que é considerado um dos mais importantes museus de design.
Daciano da Costa é agora, o primeiro Designer português a integrar o Vitra Design Museum
O legado artístico de Daciano da Costa está presente na sua contribuição pioneira para o design industrial, a sua arquitetura inovadora e funcional, e sua influência duradoura nas ideias e filosofias do design. A sua visão arrojada e o seu compromisso com a funcionalidade, a sustentabilidade e a valorização das tradições continuam a inspirar e moldar a arte e o design até os dias de hoje.