A Feira do Livro do Porto abriu esta sexta-feira nos jardins do Palácio de Cristal com uma edição centrada na poesia, e que tem como figura central Ana Luísa Amaral, que faleceu no passado dia 5 de Agosto, aos 66 anos, tendo ainda participado, apenas uma semana antes, na conferência de imprensa que a autarquia promoveu para apresentar o programa que há muito decidira dedicar-lhe.
Com 126 stands, menos um do que no ano passado, e uma regressada Feira da Alegria, espaço dedicado a editores artesanais que a pandemia de covid-19 não permitiu organizar em 2021, a feira volta a ter uma forte presença de alfarrabistas, que se tornaram uma das suas imagens de marca desde que a Câmara do Porto assumiu a organização do evento em 2014 e o levou para o Palácio de Cristal.
Na edição em que o mote passa por “Imaginar e Agir”, a poesia está em destaque na Feira do Livro do Porto 2022. “A Feira do Livro assume-se como um festival literário, diria mesmo um festival cultural. A poesia é a arte da partilha, uma promessa de futuro, e dedicamos esta edição da Feira do Livro à poesia como força transformadora”, afirmou Nuno Faria.
“Quando convidámos a Ana Luísa, ela aceitou com entusiasmo e trabalhou connosco de forma muito activa e próxima a programação que lhe dizia respeito enquanto escritora homenageada”, contou ao PÚBLICO o director artístico do Museu da Cidade, Nuno Faria, também responsável pela programação cultural da Feira do Livro, observando que “o desaparecimento tão inesperado” da escritora torna “aquilo que seria mais um episódio da sua vida literária no primeiro evento público significativo que lhe é dedicado após a sua morte”.
“Ana Luísa Amaral tem merecido alargada aclamação crítica”, acrescentou o coordenador da programação da Feira do Livro, destacando a atribuição à autora, em 2021, do Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana. “No primeiro fim de semana, de 27 e 28 de agosto, teremos a homenagem a Ana Luísa Amaral, com o descerramento da tília de homenagem às 15 horas do dia 27”, acrescentou.
Confessando um “enorme prazer em homenagear a minha querida amiga Ana Luísa Amaral”, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, lembrou que o município já honrou a autora com a medalha da cidade, em 2016. “Agora ficará ligada a uma das tílias dos jardins do Palácio de Cristal. É a forma de a cidade a homenagear para sempre”, congratulou-se.
“Resistimos a dois anos de pandemia. Este será um regresso à nossa normalidade, espero que as pessoas possam aderir”, sublinhou Rui Moreira, vincando que esta edição irá realizar-se sem qualquer restrição de lotação: “É uma oportunidade para os livreiros e alfarrabistas promoverem o que estão a produzir. Editar livros é um ato de heroísmo. Espero que as pessoas venham.”
Numa curta intervenção, à qual assistiram elementos da equipa de vereação, Ana Luísa Amaral admitiu sentir-se “honrada por este convite e feliz com esta distinção”. “Eu nasci em Lisboa, cresci em Sintra, vim para o norte e ao início detestei. Mas o Porto, neste momento, é a minha cidade. É a cidade que me acolheu, uma cidade maravilhosa”, frisou.
Antes ainda de terminar a leitura de um poema, Ana Luísa Amaral não deixou de confessar ter “muita pena” que Rui Moreira esteja a cumprir o último mandato como presidente da Câmara do Porto. “Do ponto de vista do que mais me interessa, da cultura, o nosso presidente tem feito imenso. Não estou a dizer isto só porque agora aconteceu este convite, não tem nada a ver com isso. Tem a ver com a Feira do Livro, por exemplo. Toda a gente se lembra quando a Feira do Livro era na rotunda da Boavista, tudo disperso, de qualquer maneira”, recordou.
Ana Luísa Amaral, autora homenageada desta edição – vai integrar um lote que inclui Vasco Graça Moura (2014), Agustina Bessa Luís (2015), Mário Cláudio (2016), Sophia de Mello Breyner Andersen (2017), José Mário Branco (2018), Eduardo Lourenço (2019), Leonor de Almeida e Maria de Sousa (2020) e Júlio Dinis (2021) – será objeto e protagonista de duas lições no primeiro fim de semana da Feira do Livro 2022, que Nuno Faria considerou “imperdíveis”.
De 26 de agosto a 11 de setembro, nos jardins do Palácio de Cristal, os visitantes terão à disposição 126 pavilhões, pelos quais se dividirão as 84 entidades inscritas nesta edição. À venda de livros alia-se uma vasta programação cultural que, este ano, conta com algumas novidades, como o Ciclo de Poesia Brasileira, que simbolicamente assinala a celebração do bicentenário da independência do Brasil. A programação cultural assegura 22 Concertos, 11 Conversas, 9 Lições, 4 Sessões de Cinema, 5 Sessões de Palavra Soprada e 46 Atividades Infantojuvenis, atividades que se ramificam pelos Jardins do Palácio de Cristal, Biblioteca Municipal Almeida Garrett, Casa do Roseiral e Extensão do Romantismo.