Esta semana na série MEET THE COLLECTOR apresentamos João Mouzinho, médico dentista na Molar Clinic. Desde criança, João Mouzinho deteve um grande amor pela saúde, fruto de uma família ligada à Medicina. Com grande esforço, tornou-se médico dentista e em 2014, abriu a sua própria clínica Molar Clinic. Além da paixão pela medicina, é um grande fã de arte, especialmente contemporânea. Esta admiração cresceu na rua, mais propriamente graças aos artistas nacionais e internacionais que expõem de forma gratuita nos espaços públicos. Conheça a coleção de João Mouzinho aqui.
Conte-nos como começou esta admiração pela Arte.
A minha admiração pela arte começou desde muito novo, mas de uma forma não convencional. Nunca fui um apaixonado por galerias , ou por exposições " pagas" de artistas, mas o que sempre me apaixonou foi a forma como alguns artistas expõem gratuitamente de forma pública, claro que me refiro muito mais à arte urbana, que foi talvez a minha primeira paixão. Sempre adorei conhecer novas cidades, e a primeira coisa que procurei nas minhas viagens, eram cidades onde a arte estava pela rua. Basta pensar em Barcelona, que pensamos logo que podemos conhecer várias formas de arte, deambulando pelas suas ruas. Por isso, se me perguntarem onde vai ser a minha próxima viagem, vou seguramente responder que vou procurar uma cidade onde se respira arte!
Como bom apreciador, gosto de se rodear de grandes artistas, principalmente se forem portugueses! Consegue escolher uma exposição que o marcou significativa?
Em relação à exposição que mais me apaixonou , tenho muitas em mente, mas as melhores memórias que tenho, foram de conhecer os locais onde os autores produzem as suas obras.. Lembro-me como se fosse hoje , de ver por exemplo, o mestre João Cutileiro no seu atelier / casa em Évora, a trabalhar a pedra como se de algo encantado se tratasse. Impressionante como é possível trabalhar numa pedra , e transformá-la em algo tão belo e intemporal. Sempre que olho para uma escultura que tenho produzida por ele de uma árvore em Mármore, recordo o cheiro do cortar da pedra no seu atelier. Que boas memórias! Lembro-me ainda que sempre que o visitava me pedia para lhe levar brocas de Medicina Dentária, para que ele pudesse criar as suas pequenas esculturas na Pedra... Que bonitas recordações que tenho do Mestre.
Quais são os seus artistas preferidos? Qual é o seu movimento artístico predileto?
O meu movimento artístico favorito é a arte urbana, e as minhas duas referências são o Bordalo II e o Vhils, cada uma por situações diferentes... O Bordalo II pela capacidade que tem que pegar em materiais desperdiçados, que contaminam o planeta, e de o transformar em animais que representam o melhor que o planeta pode manter .. É claramente a demonstração de um grito de revolta, pela destruição do planeta. A minha paixão pelo Vhils vem de criança e o meu gosto pela escultura, do 3D, da transformação de algo 2D num movimento , numa cara, numa memória. Tenho a certeza que muitos apreciadores do Vhils, apreciam a maneira como uma explosão ou um martelo pneumático, permite transformar uma parede , numa cara, numa imagem, numa memória. Outra artista que aprecio é a Joana Vasconcelos, e sou um total apaixonado pela forma como "protege" e transforma uma obra de Bordalo Pinheiro, que tantas recordações me traz da casa dos meus avós. Quem diria que uma peça do Bordalo Pinheiro poderia ser protegida com algo tão sensível como o croche. Ou seja juntar algo tão típico e representativo da força e da cultura da mulher em Portugal como o croche, a proteger uma obra de cerâmica , tão frágil, que tantas recordações cria nas famílias portuguesas.
Qual é a sua percepção do estado da arte em Portugal? Quais são as temáticas que deveriam ser mais debatida no mundo da arte?
Em relação ao estado da arte em Portugal, acho que está bem e recomenda-se. Por alguma razão só tenho obras de artistas portugueses, porque para mim, para além de artistas portugueses, são cidadãos do mundo, que elevam o nome de Portugal internacionalmente. Basta pensar que alguns dos nossos melhores artistas, expõem nas maiores galerias e museus do estrangeiro. Não considero que as temáticas da arte tenham que ser mais ou menos debatidas, acho é que o governo e o Ministério da Cultura, devem ajudar a elevar o nome destes artistas no estrangeiro. Se olhassem para a arte como olham para o futebol, teríamos seguramente os melhores artistas do mundo com a bandeira de Portugal.
Quais são os eventos culturais que mais anseia visitar em 2022?
Não procuro nenhum evento em 2022, procuro sim, conhecer mais artistas, a forma como trabalham, em que se inspiram, e de ver os seu dia a dia de trabalhos ao vivo. Se me perguntarem desejos para os próximos anos, é seguramente privar com os melhores artistas do mundo.
Nos últimos anos assistimos a uma mudança de paradigma, com o mundo da arte a tornar-se cada vez mais digital. As vendas online tem vindo a crescer exponencialmente, e recentemente, surgiram os Non-fungible tokens (NFTs), a grande novidade do mundo da arte. Quais são as suas perspectivas em relação ao mercado online e aos NFTs?
O mercado online e os NFT's já não são o futuro, são o presente! Quem pensar o contrário está redondamente enganado. Agora acho que há duas formas de ver a arte.. A arte física é para apaixonados como eu, que gostam de ver a arte, tocar a arte, cheirar a arte. O mundo online é para sonhadores, e a meu ver, muito mais uma forma de negócio do que paixão, ou seja, o mundo online a meu ver, foi feito para ser vendido, trocado, ganhar e perder dinheiro.. A arte física é muito mais que isso... É o prazer de ir na rua e ver uma obra linda, que nos impacta os sentidos... Como já perceberam sou muito mais do prazer carnal da arte, do que do mundo negocial do online e dos NFT's. Se me perguntam se a minha próxima obra vai ser física, tenho a certeza absoluta que sim!
Já coleciona peças de arte algum tempo. Qual é a sua obra preferida na sua coleção?
Já coleciono arte, desde que me tornei Médico Dentista. Todas as minhas economias tinham um propósito, ou seja, poder ter artistas em minha casa. Mas se me perguntarem se tenho uma favorita, não tenho... Gosto de entrar em casa, e respirar a arte do Bordalo II, Vhils, Joana Vasconcelos, mas não consigo ter nenhum favorito. Para mim a arte é como os filhos, amamos todos por igual sem haver predilectos, todos nos dizem algo, e todos têm algo especial!
Se tivesse a possibilidade de escolher uma obra de arte para a sua coleção pessoal, qual seria?
Aqui vou ser contraditório, mas escolheria um estrangeiro. Seria sem dúvida um original de Banksy, porque para mim é a referência mundial da arte que me apaixona, a arte urbana, feita de forma pública , para que todos possam apreciar. Sim não é português, mas abriria um espaçinho para uma obra sua!