Stephan Morais é co-fundador da Indico Capital Partners, empresa fundada em 2017, líder de capital de risco sediada em Portugal. A Indico concentra-se em empresas com serviços de software, inteligência artificial, fintech, segurança cibernética, blockchain e economia azul.
Stephan Morais foi membro do Conselho Executivo da Caixa Capital, gestora de fundos de Private Equity e Venture Capital, onde liderou as mais relevantes rondas de investimento internacionais de empresas tecnológicas portuguesas. Foi Administrador Não-Executivo e Conselheiro Independente do Conselho em várias empresas. Com uma experiência diversificada como banqueiro de investimento, consultor, empresário e CEO, viveu em 8 países e 4 continentes nos últimos 24 anos. Também é um ex-assessor do Comissário Europeu de Ciência e Inovação, ex-presidente da European Venture Finance Network e ex-membro do conselho da European Venture Capital and Private Equity Association e membro do conselho do International Venture Club. É especialista em empreendedorismo do Centro de Empreendedorismo da Saïd Business School, Universidade de Oxford e membro do Conselho Consultivo da AMROP, Executive Search.
Como começou a sua carreira como investidor?
Comecei por descobrir esta função e indústria, na realidade, em Londres. Em 2000, quando estava a trabalhar numa consultora, criei com os meus colegas uma startup, com o financiamento dessa própria consultora. Em 1999/2000, foi o primeiro contacto que tive com o mundo das startups e do investimento. Posteriormente, quando fui para Harvard fazer o meu MBA, apercebi-me da profundidade da profissão de investidor, no sentido de investidor em Private Equity e Venture Capital. Achei que era a profissão que gostava de um dia vir a ter, isto com 26/27 anos.
Em seguida, desempenhei várias funções como banqueiro de investimento, consultor e CEO, até que surgiu a oportunidade de me integrar na Caixa Capital, liderando esta parte de Venture Capital. Como eu tinha o background de já ter estado em várias posições “à volta da mesa”, como fundador, consultor, banqueiro, CEO, devido aos conhecimentos teóricos e práticos de investidor, e aos anos de experiência em muitas áreas, fiquei a liderar a área de Venture na Caixa Capital, entre 2013 e 2017. Mais tarde, fundei o meu próprio fundo, a partir de 2017 e arrancamos no final de 2018.
Como e quando fundou a Indico Capital Partners?
Eu (Stephan Morais) e o Ricardo Torgal trabalhávamos na Caixa e saímos em 2017, para fundar a Indico Capital Partners. Juntou-se a nós a Cristina Fonseca, a fundadora da Talkdesk e começamos entre 2017 e 2018, a angariação de capital internacional necessário para iniciar o fundo. Em 2019, realizamos os primeiros investimentos.
Como descreve a estratégia de investimento da Indico Capital Partners?
A Indico tem duas áreas fundamentais. A primeira área de investimento é em startups tecnológicas, no qual investimos de 100 mil até 10 milhões de euros por empresa, ao longo da sua vida. A segunda área é investimento na área dos oceanos, onde investimos entre 100 mil euros a 5 milhões de euros, em startups, ligadas aos oceanos que tenham um impacto positivo e disruptivo.
Em termos geográficos, concentramo-nos em investir em empresas, que sejam baseadas em Portugal e Espanha ou que tenham operação significativas nestes territórios. Na última década, já investimos em vários unicórnios, sendo a Cristina Fonseca, fundadora de um deles, Talkdesk. Neste momento temos três unicórnios no portfolio e no passado. Estivemos envolvidos em mais três. A maioria são portugueses/americanos ou portugueses/ingleses, porque as empresas são obrigatoriamente internacionais, desde o dia número um.
Quais são os setores ou tipos de empresas que costumam investir?
Na área tecnológica, quase todas as empresas estão relacionadas com software, algumas na área da inteligência artificial e marketplaces que juntam compradores e vendedores.
A área dos oceanos é mais abrangente, pois vai desde do software à biotecnologia, passando por energias renováveis e outros sectores relacionados com materiais inovadores, relacionados com os oceanos e com as algas.
Como Indico Capital Partners se diferencia de outras empresas de investimento?
Uma das grandes diferenças é que normalmente na Indico Capital Partners lideramos as operações e estamos muito próximo das equipas onde investimos. Portanto, ajudamos as equipas a angariar mais capital, a contratarem talentos, a conseguirem clientes, a pensar na estratégia desde o marketing a vendas e no desenvolvimento de produto. O outro grande diferenciador é o track record. A Indico Capital Partners, nos últimos quatro anos, já investiu em 34 empresas, cerca de 40 milhões de euros, sendo que essas empresas já angariaram 1.7 mil milhões de euros de outros investidores internacionais. Portanto, temos um track record de encontrar empresas promissoras e posteriormente dar-lhe as ferramentas necessárias para que se tornem gigantes internacionais. As startups particularmente em Portugal sabem que o caminho para virem a ser o próximo unicórnio passa pela Indico.
Como a Indico Capital Partners está lidar com a situação de crise ambiental?
Desde do primeiro dia que fomos signatários do Principles for Responsible Investment (PRI), que é uma iniciativa das Nações Unidas. Nós incorporamos em todos os nossos investimentos os princípios inerentes ao investimento responsável e sustentável. No caso do fundo dos oceanos, além de procurarmos rentabilidade financeira, também procuramos impacto e sustentabilidade. Portanto, temos isso em conta no processo de seleção das empresas, mas também medimos ao longo da vida do investimento, qual é o impacto de cada empresa, nomeadamente, no que toca aos objetivos de desenvolvimento sustentável e, especificamente o objetivo número 14, relacionado com a vida subaquática. Esta é a nossa forma de contribuir, é investir em tecnologias e empresas que possam vir a resolver a emergência climática ou contribuir para essa resolução.
Quais foram alguns dos maiores sucessos e desafios que já enfrentou durante sua carreira na Indico Capital Partners?
O maior desafio para um fundo de Venture Capital é angariar capital. As pessoas acham que é difícil angariar capital para uma startup, mas é muito mais difícil angariar dinheiro para um fundo. Não há muitos investidores institucionais na Europa ou em Portugal, em comparação com os Estados Unidos. As empresas também não investem em fundos na Europa e muito menos em Portugal. Portanto, a maior parte dos nossos investidores são americanos e estrangeiros. Temos alguns portugueses, mas a maioria deles vivem fora de Portugal e Europa. Este é o maior desafio!
Os maiores sucessos tem haver com empresas portuguesas que se conseguiram tornar líderes mundiais na sua categoria. Atualmente, temos três unicórnios, dois dos quais são baseados ou têm uma grande ligação a Portugal. Anchorage é um banco de ativos digitais, que foi avaliado em mais de 3 biliões de dólares. A Remote, uma empresa baseada em Portugal, que surgiu antes da pandemia e proporciona contratação remota aos seus clientes. Portanto, foi uma propulsora do trabalho remoto. Temos muitos outros casos em que investimos em empresas, 200 ou 500 mil euros, desde o início e que hoje em dia valem várias dezenas ou centenas de milhões como a Unbabel, Infraspeak, Barkyn e muitas outras.
Como vê o cenário de investimentos no futuro?
Quando existem empresas de qualidade há sempre capital, portanto hoje em dia não existe falta de capital para boas empresas e boas ideias. Contudo, os investidores estão mais criteriosos do que há dois ou três anos atrás.
Nos últimos quatro anos, vimos quase três mil oportunidades de investimento, e só investimos em trinta e quatro, ou seja só investimentos em 1% das empresas que vemos. Muito poucas, dentro dessas, se tornam unicórnios.
Mas para empresas excecionais, há sempre capital, tanto em Portugal como no estrangeiro. Portanto, não há falta de capital, existe é falta de projetos que resolvam um problema de forma diferente e com as pessoas certas por detrás.
Qual é o conselho que daria a alguém que está interessado em ser investidor?
Há vários caminhos possíveis, mas é muito importante uma pessoa ter um background em pelo menos uma destas áreas: ter sido um empreendedor muito especializado com bastante sucesso para conseguir aconselhar outras pessoas na sua trajetória de crescimento; ter um background financeiro de avaliação e de investimento muito forte. Isto é muito importante para se realizar bons investimentos, pois é necessário saber estruturar as operações, calcular as avaliações e conseguir legalmente concretizar as operações. Todo este processo é uma profissão em si própria.
O terceiro caminho é em consultadoria estratégica, pois basicamente quando se está a gerir uma empresa tem que saber definir a estratégia, por os recursos, concretizar esses meios. Um background em consultadoria, banca de investimento e empreendedorismo tech são as chaves principais para depois poder vir a ser um bom VC. Não quer dizer que a pessoa não possa começar logo em VC, mas se tiver um desse background destes tem uma grande vantagem.
Como decidem em que startup investir? A Indico Capital Partners só investe em Startups?
Nos fundos de tech só investimos em startups. O fundo azul podemos investir em PME’s já noutra fase, mas a verdade é que a vasta maioria dos nossos investimentos são em tecnologia e em empresas tecnológicas e disruptivas para o mercado.
As perguntas que fazemos são: esta empresa soluciona um problema de uma forma inovadora? Este é um grande problema e há muitas empresas que vão pagar ou que estão a pagar para a resolução desse problema? Estas pessoas têm o background, a vontade, a ambição e a humildade certa para trabalhar em equipa connosco? Sendo a última questão a mais difícil de se avaliar ao início.
Tem algum projeto ou investimento que gostasse de compartilhar connosco?
Vou dar o exemplo de três empresas muito diferentes que se encontram a inovar em diferentes graus e diferentes mercados. A Barkyn é uma empresa que vende ração e suplementos alimentares para cães, por via de uma subscrição online, ou seja, a pessoa subscreve ao serviço e recebe os pacotes gigantes de comida em casa, sem ter que os carregar. Hoje em dia, tem outras mais valias como um veterinário, sempre disponível, vários suplementos e brinquedos para os animais. Apesar de não ser uma empresa com uma profundidade tecnológica ultra inovadora é uma empresa que resolve um problema de um mercado grande, pois apresenta uma solução e mais produtos que não se encontram em lojas físicas. Esta empresa tem crescido imenso, tendo uma presença forte em Portugal e Espanha.
A Unbabel é líder mundial na utilização de inteligência artificial para fazer traduções. Usando uma mistura entre inteligência artificial e capacidade humana para fazer traduções quase em tempo real, nomeadamente em tudo o que é serviço de apoio ao cliente. É uma empresa que tem grandes clientes no mundo inteiro.
No fundo azul, por exemplo, temos a empresa Biomimetx, que inventou um biocida natural, que diminui o impacto da colagem de algas ou outros tipos de biomassa aos cascos dos barcos, redes de aquacultura e outras estruturas metálicas debaixo de água. Isto aumenta a eficiência das estruturas, pois os barcos gastam menos combustível e ao mesmo tempo substitui uma componente metálica da tinta que é altamente nociva para o ambiente.
Estas empresas não são ainda unicórnios, nem sequer estão nessa fase, mas encontram-se num caminho muito positivo.
Qual é a sua opinião sobre investimentos em arte? Acha que é um bom investimento?
Investimento em arte é um bom investimento como qualquer outro, se se escolher bem. É um investimento duradouro, com alguma liquidez, contudo não é líquido como outros investimentos de mercado, mas que tem tendência para apreciar ao longo do tempo. Obviamente depende de qual é a arte que se está a escolher e qual é a forma como se preserva esse ativo. Um ativo físico tem de ser preservado em boas condições e de forma segura.
Quais são os riscos e recompensas associados a investimentos em arte?
O maior risco é a pessoa comprar peças que não venham a ter grande valorização ou que não perdure no tempo. Outro grande risco, é a degradação física. A recompensa é se a pessoa escolher bem e portanto passar a ter ter um ativo que se valoriza de uma forma perene e constante. A outra mais valia é a pessoa comprar obras de arte que goste de ver e ter em exposição.
Já investiu em arte? Pode nos dar alguns exemplos de investimentos em arte que já fez no passado? Quais são os seus artistas preferidos?
Claro que sim. Tento comprar peças que eu gosto e que tenham alguma reputação. Tenho obras do meu amigo Vhils que muito admiro, do pintor espanhol também amigo, já falecido infelizmente, Luis Badosa e outras.