O Ministério Público arquivou o inquérito ao desaparecimento de 94 obras da coleção de arte contemporânea do Estado, revelou esta terça-feira a Procuradoria-Geral da República (PGR) à agência Lusa. O relatório da DGPC alertava que “a existência de obras por localizar constituiu uma fragilidade da coleção” de arte contemporânea. Entre as obras de arte cujo paradeiro é desconhecido estão gravura, desenho, pintura, escultura de, entre outros, José de Guimarães, Malangatana, Xana, Helena Almeida, Jorge Pinheiro, Abel Manta, Júlio Pomar e Graça Morais. Iniciada em 1976, a chamada coleção SEC – atual Coleção de Arte Contemporânea do Estado – reúne cerca de um milhar de obras sobretudo de artistas portugueses, como Helena Almeida, Julião Sarmento, José de Guimarães, Abel Manta, Júlio Pomar, Ilda David, Noronha da Costa. Também inclui artistas estrangeiros como Andy Warhol, Robert Mapplethorpe e Sebastião Salgado, encontrando-se dispersa por vários organismos públicos, culturais e não culturais, em Portugal e fora do país.
Helena de Almeida
O inquérito tinha sido aberto em julho de 2020 pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, depois de o Ministério da Cultura ter enviado ao Ministério Público um relatório da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) para apurar o paradeiro das obras em falta. Contactada pela Lusa, fonte do gabinete de imprensa da PGR indicou que o inquérito em causa “conheceu despacho de arquivamento“. O relatório da DGPC dava conta de 94 obras de arte da antiga Coleção SEC (Secretaria de Estado da Cultura) com paradeiro desconhecido, e outras 18 obras de arte “cuja localização não é conhecida, ou é necessário retificar com o Centro Português de Fotografia“, no Porto. Na altura, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, tinha anunciado o envio do relatório ao Ministério Público, justificando que a tutela não tinha competências de investigação e, por isso, o documento seria “encaminhado para as devidas instâncias”. Por seu turno, a PGR remeteu o documento ao DIAP de Lisboa, onde deu origem a um inquérito, indicou em julho fonte oficial contactada pela Lusa: “Este processo encontra-se em investigação e está sujeito a segredo de justiça externo”, indicou aquela fonte.
José de Guimarães
“O constante movimento de circulação de obras ao longo de mais de quatro décadas de existência da coleção, nem sempre [foi] acompanhado do indispensável registo documental e em sede de inventário“, lia-se no relatório, validado pela então diretora-geral do Património Cultural, Paula Silva. O anterior documento oficial de inventário da coleção, data de 2011, e registava 170 obras cuja localização era desconhecida. Neste novo inventário foram atualizados e expurgados registos, esclarecidas informações sobre o paradeiro de obras de arte, tendo a DGPC chegado à soma de 94 obras em parte incerta. Outras 18 obras de fotografia têm também paradeiro desconhecido, mas não foram tidas em conta neste inventário, porque não estão sob a alçada da DGPC, embora sejam de cariz público, pois fazem parte do acervo do Centro Português de Fotografia, sob gestão da Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas.
Andy Warhol
A coleção de arte contemporânea do Ministério da Cultura está dispersa por organismos como embaixadas, direções-regionais de Cultura, mas a maioria encontra-se na Fundação de Serralves (553 obras), no Porto, na Câmara Municipal de Aveiro (159) e no Centro Cultural de Belém (37), em Lisboa.
Wassily Kandinsky e o abstracionismo
Um dos pioneiros na arte abstrata, Wassily Kandinsky abriu o caminho para os artistas que lhe sucederam neste campo artístico. As suas pinturas foram descritas como "música visual", pois através das cores e da linha, expressava como a música o fazia sentir. Fascinado pela associação entre cor e música, chegou mesmo a compor músicas para as suas obras. O artista procurava provocar uma resposta emocional ao espectador sem a influência constrangedora de objetos definidos e limites físicos. Descubra neste artigo como Wassily Kandinsky, a partir das suas obras e teorias desempenhou um papel fundamental e surpreendente para a narrativa do abstracionismo.
Sobre o Espiritual na Arte
O criador das primeiras pinturas abstratas modernas, Wassily Kandinsky foi um influente pintor russo e teórico de arte. Estudou direito e economia na Universidade de Moscovo e mais tarde, foi contratado como professor de direito romano na Universidade de Dorpat, na Estônia. Aos 30 anos iniciou os seus estudos em pintura, com foco em desenhos, esboços e anatomia, na Universidade de Munique. Foi influenciado pelas composições de Monet e Richard Wagner, além da antroposofia. A devoção à beleza interior e as suas próprias experiências pessoais permaneceu como tema central nas suas peças de arte. Nesta época Kandinsky escreveu sua famosa obra teórica “Sobre o Espiritual na Arte”, texto clássico do início do modernismo, extremamente preciso sobre as considerações do material prático da sua produção artística, e especialmente sobre a cor, atribuindo qualidades emocionais e "espirituais" particulares a cada tonalidade e propondo formas complexas nas quais as cores contrastantes podem ser equilibradas umas com as outras. Em 1914, após o início da Primeira Guerra Mundial, Kandinsky voltou para Moscovo. Contudo, não encontrou muita inspiração artística, tendo assim retornado a Munique, onde foi professor na escola de arquitetura Bauhaus, até ser fechada pelos nazistas em 1933. Como teórico de arte publicou vários livros sobre teoria da arte e desenvolveu um estudo complexo e profundo sobre a capacidade das cores e formas representarem o som e evidenciar as emoções humanas.
“A cor é o teclado, os olhos são as harmonias, a alma é o piano com muitas cordas. O artista é a mão que toca, tocando uma tecla ou outra, para causar vibrações na alma” – Wassily Kandisnsky
A música - e a ideia de música - aparece em toda a obra de Kandinsky, como se percebe de imediato pelos títulos das suas obras: Composições, Improvisações e Impressões. O artista russo descreveu nos seus livros que a cor não é apenas uma componente visual mas tem alma e conseguem interagir entre si e com o espectador. Kandinsky afirmou conseguir "ouvir cores" e "ver sons". Depois que a Bauhaus foi fechada, Kandinsky mudou-se para Paris, onde ficou praticamente isolado dos outros pintores impressionistas e cubistas. Acabou por conseguir cidadania francesa e viveu o resto da sua vida neste país. As obras e as teorias de Kandinsky tiveram um grande impacto e influência nos movimentos posteriores como expressionismo abstrato.
A teoria de Kandinsky vistas pelas novas tecnologias
Agora com a plataforma Play a Kandinsky, criada pelo Google Arts & Culture em parceria com o museu francês Centro Pompidou, consegue-se imaginar a condição neurológica de Kandinsky, de associar cores a sons. O pintor tinha sinestesia, condição que fundia dois ou mais sentidos do corpo humano. No caso dele, a mistura era visual-auditiva: cores tinham sons e, portanto, seus quadros eram como música. Nesta página também consegue perceber as associações entre cores e música que Kandinsky criava.