Arte Urbana ou Street Art
Na segunda parte do século XX, vemos a explosão da arte urbana (street art), como forma de expressão e comunicação de uma mensagem ou marca através de imagens, ilustrações ou símbolos no espaço público. Esta prática começa insistentemente na década de setenta, em Nova Iorque, com protagonista como Jean-Michel Basquiat, que começaram a manifestar os seus pensamentos em ações de rua. O artista afro-americano, sob o nome de SAMO, na altura, vinculou as suas próprias observações em mensagens de texto vigoroso nos edifícios do ambiente urbano. Foi nas ruas que se formou a base para a sua produção artística inicial, Jean-Michel Basquiat projetou as suas percepções do mundo exterior por meio de seus atos criativos, através de uma única palavra, uma frase curta ou uma imagem simples referindo uma pessoa, evento ou observação recente. A prática do graffiti cresceu, inicialmente em Nova Iorque, mas rapidamente se estendeu com firmeza noutras cidades contemporâneas, desafiando assim os cânones vigentes das praticas artísticas. Saiba neste artigo quais foram os dois artistas portugueses que se demarcaram neste meio.
Vhils
A cultura urbana, nomeadamente o graffiti, prematuramente fascinou o artista Alexandre Farto. Nascido em Lisboa, em 1987, desde cedo começou a pintar as ruas do Seixal, onde cresceu, assinando-as sob o pseudónimo de Vhils. Na cultura urbana cada writer (termo utilizado para pintor ou artista do graffiti) cria a sua tag correspondente à sua assinatura, marcando assim a sua autoria, identidade e estilo próprio, para além de marcar spots de interesse para futuros murais. Uma tag que inicialmente não tinha significado nenhum acaba por se tornar o nome pelo o qual, até ao presente Alexandre Farto continua a assinar, e pelo o qual é conhecido nacionalmente e internacionalmente. Numa entrevista para a Notícias Maganize confessou: “Eram as letras que eu mais gostava de fazer e que fazia mais rápido.”
Tal como Keith Haring, que ficou famoso por transformar o sistema de metro de Nova York na sua própria tela, acompanhado ou sozinho, Vhils começou por intervir em paredes e comboios. Percebeu rapidamente que apesar do graffiti ainda viver num círculo de pessoas muito fechado, que a rua era o local com maior potencial de comunicação. Da lata de spray para o stencil, Alexandre Farto explora assim novas técnicas, numa fase de transição e de evolução que o leva a experimentar outros suportes. Utilizava cartazes publicitários que se acumulavam em camadas nos outdoors, pintava-os de branco e escavando as camadas esculpindo rostos. O objetivo revelou à Notícias Magazine, na mesma entrevista acima referida, era: “Fazer uma reflexão sobre a identidade e a influência da sociedade de consumo no indivíduo. Tentar chegar à essência do que está por detrás de toda esta futilidade que nos forma e que nos faz ser aquilo que somos.”
Desta transição e evolução decide voltar às paredes, mas desta vez esculpi-las. Rostos de figuras anónimas que fotografa nas ruas e desenhas nos transportes públicos, são esculpidas em grande escala, com martelo pneumático, em muros, túneis e edifícios. Oferece assim um rosto à cidade e dá poder às pessoas comuns. Soma as cidades, as ruas, os edifícios que servem de palco de acção criativa no processo de escultura e gravura obtido através da subtração de camadas, de desbaste, perfuração e imersão. As paredes são geralmente escolhidas por ele, mas também tem recebido convites para produzir intervenções site specific em vários locais, sendo sempre em áreas urbanas e geralmente abandonadas. Através da sua criatividade, Vhils revela as camadas inferiores ocultas e a fragilidade do espaço urbano, refletindo temas atuais do panorama artístico, como a identidade, a representação, a efemeridade e a vivência do indivíduo na sociedade de consumo. Denota-se nestes trabalhos murais a influência do artista Gordon Matta Clark, por experimentar e exprimir-se através da prática da destruição como forma criativa e de produção artística. São questionadas as lógicas sociais e as ideias do espaço público, através de intervenções nas fachadas em edifícios abandonados ou degradados. Ressalta a invasão e a modificação do espaço urbano de forma ambiciosa mas temporária, pois as obras desapareceram com o tempo, deixando para a posteriori apenas os registos documentais.
Bordalo IIO artista português Artur Bordalo (1987), conhecido como Bordalo II, ficou famoso por usar o lixo das ruas para criar esculturas de animais deslumbrantes, com o propósito de alertar as pessoas sobre a poluição e todos os tipos de espécies que se encontram ameaçadas de extinção. Este foi outro artista que desenvolveu a sua prática, a partir da street art, mas tem evoluindo construindo hoje o que é considerado de «trash art».
No curso de pintura na Academia de Belas Artes de Lisboa, descobriu a escultura, a cerâmica e começou a experimentar os mais diversos materiais. A paixão pela pintura remonta à infância, quando passava horas a fio a observar o avô a pintar no seu atelier e também devido no submundo da cidade de Lisboa. Profundamente influenciado pelo avô, Artur Bordalo começou a pintar paredes com spray nas ruas aos 11 anos de idade, com o nome artístico Bordalo II, em homenagem e destaque ao legado artístico do seu avô Artur Real Bordalo (1925-2017). Ambos os artistas portugueses destacam na sua linguagem visual a reflexão sobre a identidade e a influência da sociedade de consumo no indivíduo.
Crédito Fotográfico Wikipedia.
Sem dúvida, que estes artistas têm um poder especial em trazer o estilo desafiador da arte de rua para dentro de casa, seja com a destruição das próprias obras como aconteceu com a famosa obra de Banksy “Girl with balloon" (2006) ou outras formas de expressão criativa mais simples. De Jean-Michel Basquiat a Shepard Fairey, os artistas de rua são sempre conhecidos pelas suas expressões criativas de rebelião.
Descubra mais sobre esta temática:
Bordalo II, o artista ecológico
A Representação dos Animais na Arte
Trending Artists 2021
Tendências da Arte 2021: 7 Obras Mais Valiosas
Top Sellers 2021