Quem é o artista que representou Portugal na Bienal de Veneza?
José Pedro Croft é uma das grandes figuras da escultura contemporânea portuguesa. As suas estruturas simples, praticamente minimalistas, desenvolvem uma relação complexa com a percepção do espectador. Expõe regularmente desde 1981, tendo realizado a sua primeira individual em 1983 na Galeria do Diário de Notícias. O tempo em que trabalhou para João Cutileiro foi um fator determinante no desenvolvimento da sua prática artística. Representou diversas vezes Portugal na Bienal de Veneza e os seus trabalhos encontram-se nas coleções do Centre Georges Pompidou em França, Fundação de Serralves, Museu Calouste Gulbenkian, Secretário de Estado da Cultura, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, entre outros.
José Pedro Croft e mestre João Cutileiro
José Pedro Croft nasceu em 1957 no Porto, contudo atualmente vive e trabalha em Lisboa. Entre 1976 a 1981, frequentou o curso de pintura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Durante a década de 1980, trabalhou com João Cutileiro, sendo assim influenciado a criar esculturas sobretudo em pedra, que remetiam para a tradição da escultura funerária. Como o próprio artista revelou:
“João Cutileiro foi como um mestre para mim, forneceu-me uma boa formação técnica. Assim, fiz a minha primeira exposição: uma série de macacos sobre pedestais em pedra, que, na realidade, eram exercícios de modelação. O minimalismo foi algo que entrei em contacto quando já estava na escola, mas só em livros. Era, para mim, ao mesmo tempo, críptico e fascinante.“
O vidro e o espelho nas esculturas de José Pedro Croft
A partir de 1980 começou a explorar outros elementos como o gesso e bronze, representando utensílios básicos do quotidiano. Na década seguinte, o trabalho de pedra foi abandonado, incorporando cada vez mais o uso de formas simples e geométricas e introduzindo os materiais, associados à sua obra até à atualidade, vidro transparente, espelho e bronze. O artista português ficou assim conhecido pelas esculturas elaboradas com materiais industriais, como madeira e metal, com superfícies de vidro e espelho, onde frequentemente são aplicadas tintas fortes vibrantes que estabelecem um jogo de luz intenso que cria tensão entre a obra e o espaço onde esta se encontra exposta. Através de uma economia de meios, as suas esculturas combinam a natureza material do objeto com seu aspecto formal, ao usar o efeito de luz, sombra e reflexo de forma a criar novos volumes e alterar a percepção do espaço envolvente. Esta visão é fortalecida, a partir de outros meios como o uso de tinta industrial, dando assim a percepção de pintura em relevo. As composições arquitectónicas sejam tridimensionais ou planas no papel, são sempre construídas sobre formas delicadamente equilibradas e sobre a dicotomia do espaço positivo e negativo que, para o artista português, “reflecte a transitoriedade do universo”. Nas palavras do próprio José Pedro Croft, o interesse da sua prática: “reside nas suas nuances e nas pequenas diferenças, e não na tentativa de enquadrá-la numa determinada linha de trabalho”.
No desenho e pintura a tridimensionalidade é abordada por meio de uma forma muito simples, o retângulo. Como o próprio artista afirmou numa entrevista a Rui Jorge Martins:
“Em 2002, por ocasião de uma retrospectiva no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, comecei a olhar para todo o trabalho que tinha realizado ao longo de 20 anos e percebi que, fosse desenho ou escultura, tinha estado sempre a trabalhar em retângulos ou caixas. De repente, tudo ficou claro. Era como se escolhesse um retângulo para falar de tudo. Trabalho com essa forma geométrica, mas posso estar a falar de ética.”
Da bidimensão à tridimensão: escultura, desenho e gravura
No percurso artístico de José Pedro Croft, a escultura, desenho e gravuras são linguagens que se complementam. Nas obras bidimensionais e tridimensionais, as questões espaciais são as mesmas: repetição, pontos de tensão e estabilidade, peso, densidade, recombinação de soluções compositivas, processos aditivos, processos subtrativos, migração de práticas bidimensionais para práticas tridimensionais (e vice-versa), utilização de materiais específicos dos campos bidimensionais e tridimensionais. Sobre este assunto o artista refere: “Quando trabalho em bidimensão, trabalho em gravura ou em desenho; e trabalho exatamente as mesmas questões espaciais que trabalho na escultura”.
Atualmente, o trabalho de José Pedro Croft é amplamente conhecido pelas suas esculturas e pinturas geométricas reduzidas. Percebemos assim que o artista português é um escultor por excelência e que toda a sua obra, seja na escultura, na gravura ou no desenho, está intrinsecamente interligada. As suas obras podem ser encontradas em diversas instituições e na P55.