Armand Pierre Fernandez, mundialmente conhecido como Arman, transcendeu as fronteiras convencionais da arte ao longo da sua prolífica carreira. Nasceu em Nice, França, em 1928, Arman emergiu como um ícone do movimento Nouveau Réalisme, desafiando as expectativas artísticas com as suas inovadoras e ousadas criações. A sua abordagem única, que evoluiu desde a pintura abstrata até a transformação de objetos quotidianos em expressões artísticas, revela um artista intrépido, profundamente envolvido na desconstrução e recomposição da realidade material. Em cada criação, Arman nos convida a reconsiderar a relação entre o comum e o excepcional, lançando luz sobre a intrincada interseção entre arte, sociedade e a nossa percepção do mundo ao nosso redor. Este artigo explora o fascinante percurso de Arman, desde os seus primeiros anos de formação em Nice até sua imersão nas vanguardas artísticas parisienses e, finalmente, a sua transição para a efervescente cena artística de Nova York. Ao examinarmos as suas obras mais notáveis, mergulharemos nas características distintivas que tornam o legado de Arman tão impactante e influente. Das suas icônicas "Acumulações" à fusão de música e escultura, Arman moldou um universo artístico onde o ordinário se transforma em extraordinário.
Qual foi o percurso de Arman?
Armand Pierre Fernandez, conhecido artisticamente como Arman, foi um artista franco-americano nascido em Nice, França, em 17 de novembro de 1928, e faleceu em 22 de outubro de 2005, em Nova York. A sua carreira artística foi marcada por uma evolução significativa em termos de estilo e técnicas ao longo da sua vida.
O seu pai, Antonio Fernandez, era um negociante de antiguidades e também um artista amador, fotógrafo e violoncelista. Desde cedo, Arman aprendeu pintura a óleo e fotografia com o seu pai. Após concluir os seus estudos em filosofia e matemática em 1946, ingressou na École Nationale des Arts Décoratifs em Nice, onde estudou judô e conheceu Yves Klein e Claude Pascal, com quem desenvolveu uma forte amizade.
Após concluir os seus estudos em 1949, Arman foi para Paris e matriculou-se na École du Louvre, concentrando-se em arqueologia e arte asiática. Em 1951, tornou-se professor no Bushido Kai Judo Club em Madrid, Espanha, e, em 1952, serviu no exército francês durante a Guerra da Indochina. Durante esse período, a sua abordagem artística começou a se concentrar na acumulação de objetos semelhantes.
Inspirado por uma exposição do dadaísta alemão Kurt Schwitters em 1954, Arman começou a trabalhar nas suas primeiras acumulações significativas, chamadas de "Cachets". Em 1958, na sua terceira exposição solo na Galerie Iris Clert em Paris, exibiu as suas primeiras acumulações bidimensionais chamadas Cachets, marcando uma mudança importante na sua carreira. Nesse período, também decidiu mudar o seu nome de "Armand" para "Arman", em homenagem a Van Gogh.
De 1959 a 1962, Arman desenvolveu o seu estilo mais reconhecível, com foco em duas principais ideias: Acumulações e Poubelles (latas de lixo). As Acumulações eram coleções de objetos comuns e semelhantes, muitas vezes organizados em resinas transparentes ou caixas de acrílico. As Poubelles eram representações de lixo espalhado. Também explorou a criação por meio da destruição, com obras como Coupes (Cortes) e Colères (Iras), que apresentavam objetos cortados, queimados ou destruídos.
Arman teve uma conexão com o artista Andy Warhol, sendo visto no filme de Warhol "Dinner at Daley's" em 1964. Warhol possuía duas das Poubelles de Arman e uma outra acumulação chamada Amphetamines.
Fascinado pela cena artística em Nova York, Arman começou a passar parte do tempo na cidade a partir de 1961. Envolveu-se com a ZERO art movement baseada na Alemanha. Durante esse período, as suas Acumulações incluíam uma variedade de objetos, desde ferramentas até instrumentos musicais.
Uma de suas maiores obras, "Long Term Parking" (1982), consiste em 60 carros franceses incorporados em 18.000 kg de concreto e está em exibição permanente no Château de Montcel em Jouy-en-Josas, França. Outra obra notável é "Hope for Peace" (1995), uma comissão especial do governo libanês, que consiste em 83 tanques e veículos militares em Beirute.
Faleceu em Nova York em 2005, e parte das suas cinzas foi enterrada no Cemitério Père Lachaise em Paris em 2008.
Arman é reconhecido como um dos artistas mais prolíficos e inventivos do final do século XX, com obras em importantes coleções e museus ao redor do mundo, incluindo o Metropolitan Museum of Art em Nova York, a Tate Gallery em Londres e o Centre Pompidou em Paris. A sua obra influenciou movimentos artísticos como o Nouveau Réalisme e deixou uma marca duradoura na cena artística internacional.
Qual são as características das obras de Arman?
Acumulações e Poubelles: Arman é mais conhecido pelas suas "Acumulações" - obras que envolvem a reunião e organização de grandes quantidades de objetos semelhantes. Também trabalhou em "Poubelles" (latas de lixo), criando composições artísticas com objetos descartados e lixo.
Destruição e Recomposição: Durante um período, Arman explorou a ideia de criar arte por meio da destruição. As suas séries de obras "Coupes" (Cortes) e "Colères" (Iras) envolvem objetos cortados, queimados ou destruídos.
Uso de Objetos Quotidianos: Arman era conhecido por usar objetos do cotidiano, como relógios, instrumentos musicais, automóveis, móveis e até mesmo objetos de uso pessoal, nas suas obras.
Materialidade e Transparência: Nas suas Acumulações, Arman frequentemente incorporava objetos em resinas transparentes ou caixas de acrílico, permitindo que os espectadores vissem a disposição tridimensional dos itens.
Influência Dadaísta: Arman foi influenciado pelo dadaísmo, um movimento artístico que desafiava as convenções artísticas tradicionais e muitas vezes incorporava elementos do absurdo e do irracional.
Mudança de Nome e Homenagem a Van Gogh: A mudança do seu nome de "Armand" para "Arman" em 1957 foi uma escolha significativa, realizada como uma homenagem a Vincent Van Gogh, que também assinava as suas obras apenas com o seu primeiro nome.
Envolvimento com o Nouveau Réalisme: Arman foi um dos membros fundadores do grupo Nouveau Réalisme em 1960. Esse grupo de artistas buscava uma nova abordagem à realidade, muitas vezes incorporando elementos da vida quotidiana nas suas obras.
Interesse em Música e Instrumentos: Instrumentos musicais, especialmente cordas e bronze, tornaram-se temas proeminentes nas obras de Arman. A sua colaboração com uma fundição na Normandia, França, contribuiu para isso.
Exploração de Materiais e Meios: Ao longo da sua carreira, Arman experimentou com uma variedade de materiais e meios, desde objetos encontrados até técnicas de soldagem para criar as suas obras.
Temas Críticos à Sociedade de Consumo: Na sua série de Poubelles, Arman abordou temas críticos relacionados ao consumo, desperdício e produção em massa, antecipando críticas ao consumismo que se tornariam características importantes do movimento Pop Art.
Quais são as obras mais famosas de Arman?
"Le Plein" (1960): Esta obra foi exibida na Galerie Iris Clert, em Paris. Em contraste com a exposição anterior do seu amigo Yves Klein, chamada "Le Vide" (O Vazio), Arman preencheu a galeria com lixo, explorando a ideia de acumulação.
"Long Term Parking" (1982): Uma das suas maiores e mais impressionantes esculturas, localizada no Château de Montcel em Jouy-en-Josas, França. Esta obra consiste em 60 carros franceses imersos em 18.000 kg de concreto.
"Hope for Peace" (1995): Uma monumental escultura comissionada pelo governo libanês para comemorar 50 anos de serviço militar. Localizada em Beirute, Líbano, a obra consiste em 83 tanques e veículos militares.
"Violins Accumulation" (1969): Parte da sua série de Acumulações, essa obra incorpora violinos desmontados e arranjados de maneira única. Reflete a fusão de música e arte na produção de Arman.
"Portrait of Marguerite" (1962): Uma obra notável da série de Coupes, que envolve objetos cortados e arranjados numa composição visualmente impactante.
"Amphetamines" (1966): Uma obra que faz parte das acumulações de Arman, demonstrando a sua habilidade em organizar objetos de forma atraente e conceptual. Esta obra foi possuída por Andy Warhol.
"Homage to Van Gogh" (1962): Uma série de obras que reflete a influência de Van Gogh na vida de Arman. Homenageia o pintor assinando as suas obras apenas com o seu primeiro nome, semelhante a como Van Gogh assinava as suas pinturas.
"Eros, Inside Eros" (1986): Uma escultura localizada no Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, que exemplifica a habilidade de Arman em criar obras imponentes e visualmente cativantes.
Arman, ao longo da sua extraordinária carreira artística, não apenas desafiou as convenções estabelecidas, mas também redefiniu os limites do que a arte poderia ser. A sua ousadia em acumular, destruir e recompor objetos quotidianos trouxe à tona uma nova perspectiva sobre a relação entre o artista e a sua matéria-prima. Neste encerramento, contemplamos não apenas as suas esculturas imponentes, mas a capacidade de Arman de elevar o trivial à esfera do sublime.
Ao explorar as suas obras emblemáticas, desde os primeiros experimentos com carimbos até as grandiosas instalações de carros e tanques, somos testemunhas de um artista que ousou desafiar as expectativas. Arman transformou a banalidade em beleza, questionou o consumismo com as suas Poubelles e, no processo, abraçou o caos como um meio para criar. Em cada corte, cada solda, encontramos a essência de um criador que via na acumulação não apenas uma técnica, mas uma filosofia de expressão.
Ao deixar a sua marca nas correntes do Nouveau Réalisme e em colaborações com outros ícones da cena artística, Arman transcendeu o seu tempo, deixando um legado que ecoa através das décadas. A sua mudança de nome, homenagem a Van Gogh e exploração incansável de materiais são testemunhos de uma mente criativa inquieta, constantemente em busca de novas formas de manifestar as suas visões.
Os seus trabalhos continuam a desafiar as definições tradicionais de arte, lembrando-nos de que a verdadeira inovação reside na capacidade de transformar o ordinário em algo extraordinário. Assim, Arman não é apenas um nome na história da arte, mas uma fonte inesgotável de inspiração para aqueles que buscam enxergar além do comum e explorar o potencial ilimitado da criatividade humana.