A exposição individual “Cifra”, de Dayana Lucas, e a exposição coletiva “Laboratórios de Verão 2023”, promovida pelo CIAJG e pelo gnration, que integra obras de Bárbara Fonte, Cláudia Cibrão, Guache, Lucas Carneiro e Manuel Costa, assinalam a rentrée do CIAJG/Centro Internacional das Artes José de Guimarães. Marcado para este sábado, 30 de setembro, a partir das 17h00, o programa inaugural é pontuado por música e performance, com o objetivo de proporcionar uma experiência total entre as várias artes que coabitam este “museu com mundos dentro”.
Segundo Marta Mestre, diretora artística do CIAJG, “as inaugurações são um ritual do encontro entre artistas, público e a coleção do museu, um momento em que renovamos o convite para conhecer e permanecer. Na medida em que artes provenientes de diversas partes do mundo – África, América Central e China –, juntamente com a obra do artista-colecionador José de Guimarães são o eixo e a respiração deste lugar, a nossa programação quer aproximar pessoas, criar sensibilidades e sentidos críticos”.
As inaugurações do CIAJG tornam-se, assim, um ponto de passagem obrigatório em Guimarães. Com entrada livre, a tarde que assinala o arranque das novas exposições conta com um programa especial, onde cabem vários momentos de fruição artística.
Após a inauguração das exposições (17h00), vamos poder absorver (às 18h00) as palavras e os desenhos de “Prova de Vida”, um livro de Dayana Lucas editado pela Orinoco, que atua como rastilho para uma leitura de Vuduvum Vadavã, alter ego de Marta Ângela (metade de Von Calhau!), artista multidisciplinar com uma prática extensa na manipulação de signos por via do som, da palavra e de artefactos visuais. Vuduvum Vadavã atuará diretamente no espaço da exposição “Cifra”.
Logo depois, às 18h30, o duo de música experimental Guache (Luciana Melo e Gil Fortes), do Rio de Janeiro, sedeado em Braga, compõe um ambiente sonoro em diálogo com o espaço do museu, intitulado “Improvisação em duas vias”, que explora a interação com o acaso, melodias não temperadas, performatividade vocal não verbal, textura e ruído.
Às 19h00, Chima Isaaro, que recentemente teve uma atuação entusiástica no MEO Kalorama, protagoniza uma sessão de dj set. Chima Isaaro é conhecida pelas travessias melódicas que entretecem techno, house, disco, soul, batida, jazz e muito mais, explorando cadências "black-rooted". Integrando mixagens de dança que têm conquistado devotos em toda a parte, Chima Isaaro sustenta essa energia expansiva com um convite universal: podem vir, se souberem dançar. Música e dança fazem-se acompanhar de um momento de degustação, ao fim da tarde, criado por Cantina CAAA (André Pinto e Ane Delazzeri), inspirado nas exposições.
Sobre as exposições que arrancam, nomeadamente “Cifra”, de Dayana Lucas, refere Marta Mestre, diretora artística do CIAJG e curadora da exposição: “O desenho é uma ferramenta de pensamento para muitos artistas. Desenhar é criar mundos, dos ´alfabetos´ de José de Guimarães” às linhas (in)visíveis em Dayana Lucas. Queremos perseguir esta linha programática, possibilitando leituras cruzadas da criação de artistas contemporâneos de diferentes gerações”.
“Cifra”, de Dayana Lucas, é a exposição que ocupa o piso térreo do museu, a partir de 30 de setembro. Com curadoria de Marta Mestre, “Cifra” apresenta um conjunto de criações da artista Dayana Lucas que nasceu em Caracas (Venezuela), em 1987 e que vive e trabalha no Porto, recém-nomeada finalista do prémio de desenho 2023 da FLAD/Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. Uma coprodução CIAJG e ArtWorks, “Cifra” apresenta uma seleção de trabalhos recentes da artista, entre os quais aqueles realizados no programa de residências artísticas No Entulho (ArtWorks), que possibilita a experimentação com diversos materiais, numa lógica sustentável e de colaboração, A exposição é concebida sob o signo da opacidade e da transparência, do visível e do invisível, num ritmo de diferentes materiais, técnicas e suportes, que se combinam para dar corpo ao imaginário da artista.
Cofundadora da Oficina Arara entre 2010-2017, membro do coletivo Soopa e fundadora da Orinoco, editora de livros e outras edições de artista, Dayana Lucas tem vindo a desenvolver persistentemente uma pesquisa prática na área do desenho e escultura: “ações de cura e pontes entre o interior (corpo e psique) e o exterior (realidade)”, nas palavras da artista. O título da exposição “Cifra” remete para a qualidade insondável do enigma, para a “opacidade” enquanto forma resistência política e subjetiva à racionalidade dominante. A linguagem – regulada pelo estado, institucionalizada pela disciplina e pela educação – é subvertida através do desenho movente, rizomático e enigmático. “Cifrar é subverter”, diz-nos Dayana Lucas nesta exposição que conta com a apresentação de uma “casa de vidro”, metáfora íntima e política do mundo. Como refere a curadora Marta Mestre: “Existe um sentido iniciático no seu gesto, em que o desenho é como uma máquina de ver e de sentir. A invenção de uma linha que não acaba, em Dayana Lucas, problematiza não só o fecho do gesto, mas também os inícios do mesmo. Provoca a vontade de deriva, contra a racionalidade do quotidiano”.
“Laboratórios de Verão 2023” é a segunda exposição que inaugura no CIAJG no dia 30 de setembro e apresenta o trabalho dos quatro vencedores do open-call homónimo que é realizado pelo gnration, em Braga, e pelo Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), em Guimarães: Bárbara Fonte, Cláudia Cibrão, Guache, Lucas Carneiro e Manuel Costa.
Criada em 2015 pelo gnration, e tornada uma parceria com o CIAJG desde 2021, esta iniciativa destina-se a artistas ou coletivos residentes ou naturais do território das duas instituições, que se proponham a desenvolver novos trabalhos artísticos nos domínios da imagem, som, performance, interatividade, música, dança ou cruzamentos disciplinares. O júri da edição de 2023 destaca várias qualidades. Para o diretor artístico do gnration, Luís Fernandes, a edição deste ano destaca-se pela “elevada solidez e diversidade dos projetos vencedores, que reflete o crescente nível qualitativo da criação no território”. Já Marta Mestre, diretora artística do CIAJG, reforça a importância do programa Laboratórios de Verão “para o desenvolvimento do tecido artístico não só de Braga e Guimarães, onde estas duas estruturas se sediam, mas para todo o distrito”. Paulo Mendes, artista e jurado convidado desta edição do programa, refere que “é importante que estes artistas que ganhem visibilidade dentro e fora do seu território de ação / criação”.
A exposição ocupa todo o piso -1 do CIAJG. Bárbara Fonte (n. Braga, 1981) apresenta “A mais inábil candura”, um conjunto de desenhos e uma sucessão de ações performativas filmadas no seu atelier, onde o corpo humano é o elemento central. Cláudia Cibrão (n. Barcelos, 1993) investiga a sombra própria e projetada com “Pintura imaterial”. Guache (Gil Fortes, n. 1974; e Luciana Melo, n. 1972), do Rio de Janeiro, sediado em Braga, compõe uma vídeo-instalação intitulada “Improvisação em duas vias” que demarca o ambiente instalativo – projeção distorcida em dois planos de um trabalho de foto-investigação – e a paisagem sonora, em diálogo, criam uma atmosfera imersiva. E Lucas Carneiro (n. Braga, 1990) e Manuel Costa (n. Braga, 1990) apresentam “Hic Svnt Serpens” uma instalação que cruza tempos anacrónicos, onde mitos ancestrais são recompostos de forma nova nos ambientes digitais.
No dia seguinte à inauguração, domingo, 1 outubro, às 11h00, o CIAJG e a equipa de Educação e Mediação Cultural d'A Oficina convidam também para a primeira visita orientada à exposição de Dayana Lucas. Diz-se que a mediação é uma janela, algo que está entre dois mundos, e esta é uma oportunidade para a abrir e conhecer sem receios as propostas artísticas que este novo ciclo apresenta (e desafia). Com orientação de Luísa Abreu, a visita é de participação gratuita, mediante inscrição prévia através do formulário disponível em www.ciajg.pt.
Para assinalar o arranque do novo ciclo expositivo, a entrada no museu será gratuita durante todo o fim de semana (30 de setembro e 1 de outubro).
FONTE: A Oficina