Fernando Pessoa foi um dos mais importantes poetas da língua portuguesa e uma das figuras centrais do Modernismo. Os seus poemas envolvidos em temáticas ligadas às tradições nacionalista e reflexões sobre “eu profundo”, solidão, tédio e inquietação, foram decisivos para a evolução de toda a produção literária do século XX. Nasceu em Lisboa em 1888, contudo partiu com sete anos para África do Sul, onde obteve os seus estudos. Em 1905, regressou definitivamente a Portugal e matriculou-se, no ano seguinte, no Curso Superior de Letras. Em 1912, estreou-se na revista “A Águia” com artigos de natureza ensaística e passado dois anos, em 1914, criou as personalidades dos três conhecidos heterónimos: Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos.
Fernando Pessoa marcou profundamente o movimento modernista português, pela sua produção literária e teórica vanguardista, além do envolvimento na impressão da revista "Orpheu", com Mário de Sá-Carneiro, José de Almada-Negreiros e entre outros. Contudo, quando faleceu em 1935, somente tinha sido publicado um livro em português, "Mensagem". Devido à sua importância cultural, muitos artistas têm vindo a representar esta figura essencial. Neste artigo iremos compreender como estes expressam de diversos modos as virtudes do célebre poeta.
Júlio Pomar
Júlio Pomar foi um artista português, pertencente à terceira geração de modernista, com uma produção que vai desde o neorrealismo ao expressionismo, passando pelo abstracionismo. Apoiando-se na geometria, nesta obra o artista retratou o poeta com diversas formas, linhas retas, triângulos, círculos, entre outros. O fundo dividido em duas cores, vermelho e preto, salienta as formas e os traços icónicos pelo qual o poeta é conhecido: o chapéu, os óculos, o bigode e a gravata. Ao longo da sua carreira, Júlio Pomar desenhou múltiplas vezes em suportes variados o escritor, sendo a obra mais conhecida a encomenda dos azulejos no Metropolitano de Lisboa.
Fernando Pessoa de Júlio Pomar
Michael Barrett
De forma peculiar e dinâmica, Michael Barrett criou retratos de Fernando Pessoa com influências impressionistas e expressionistas. Nesta obra o poeta é representado com os elementos que o caracterizam, sendo ao mesmo tempo, envolvido numa paisagem quente com diversos pigmentos que dão vivacidade à pintura. De modo a criar formas mais assentes, o pintor traçou nas manchas de acrílico os atributos do rosto e da paisagem. Assim, a cor e a linha são os protagonistas desta graciosa pintura que expressa a admiração de Michael Barrett pelo poeta português Fernando Pessoa.
Fernando Pessoa de Michael Barrett, 1998
Eurico Gonçalves
Manifestando-se com sinais gráficos e caligrafias abstratas, Eurico Gonçalves valorizou as manchas e os traços livres e impulsivos. Nesta obra Fernando Pessoa e os heterónimos, o artista criou um mapa com linhas, traços e círculos que esboça vários caminhos entre o poeta e os seus heterónimos. Ao longo da sua vida, Fernando Pessoa assumiu outras personalidades literárias que assinaram obras díspares como Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, tendo cada um deles uma biografia e um estilo próprio. Conhecido assim por ter criado diversos heterónimos, Eurico Gonçalves parte desta característica para na parte inferior desta peça escrever uma citação: "Põe quanto és no mínimo que fazes" - Ricardo Reis - Dádá Ze. O excerto surgiu dos versos do poema, Para ser grande sê inteiro, que ensina encarar e aceitar aquilo que verdadeiramente somos na sua plenitude, sem termos medo ou vergonha das nossas características e fraquezas. Este discurso de elogio e orgulho do nosso ser, surgiu como oposição à fragmentação do homem moderno, em voga na altura que este fora escrito pelo poeta.
Fernando Pessoa e os heterónimos de Eurico Gonçalves, 2017
Alfredo Luz
As obras de Alfredo Luz apresentam um conjunto de fragmentos que são reunidos pelos seus sentidos e pensamentos. No retrato concebido sobre Fernando Pessoa, o artista delineou as peculiaridades físicas conhecidas pelo público - óculos e chapéu - de forma a estabelecer um reconhecimento praticamente espontâneo deste. Dando asas à imaginação e à fantasia, o artista transportou o poeta para o seu universo criativo. De uma forma sensível, abre uma porta para o interior da mente de Fernando Pessoa e envolve-o em penas - utensílio ligado à sua prática profissional, a escrita. Rodeado de encanto, Alfredo Luz ofereceu com esta extraordinária obra uma visão pessoal e arrojada sobre um dos maiores poetas da história de Portugal.
Fernando Pessoa de Alfredo Luz
Artem UsáNuma combinação entre a figuração e o abstrato, Artem Usá estabeleceu pinturas que exibem a sua energia e emoções, a partir da espontaneidade das pinceladas e da cor. Como a arte é uma oportunidade de ver o mundo de modo particular e único, o artista criou uma obra de homenagem ao escritor Fernando Pessoa. Nesta pintura que oscila entre o desenho e a mancha, Artem Usá expressou as distintas personalidades do poeta, através da variação de pigmentos, num jogo entre a composição das cores e as suas camadas. O título da obra é composto por uma das frases extremamente populares do escritor: “O homem é do tamanho do seu mundo”. A partir desta referência, compreende-se que o artista exibe neste retrato, de forma espontânea e peculiar, o interior do seu mundo, dos seus pensamentos e impressões.
O homem é do tamanhão do seu mundo de Artem Usá
Henrique do Vale
Influenciado pelo gestualismo, Henrique do Vale criou obras com uma profunda liberdade e espontaneidade, tendendo a selecionar temáticas com uma ligação à história ou às suas vivências. No retrato de Fernando Pessoa, o artista apresenta-nos, com um traço delicado e emotivo, uma composição concebida através da fluição de ideias e a sobreposição de cores ao trabalhar com o acrílico. Uma representação que exibe a singularidade das obras de Henrique do Vale pelo envolvimento da figura do poeta em pigmentos e traços tão inconscientes e puros.
Fernando Pessoa de Henrique do Vale