O que visitar em junho?
Quais são as novidades do mundo da parte em Junho? Quer saber quais são as exposições patentes durante este mês? As novidades no mundo artístico multiplicam-se de tal forma que, à medida que damos conta, os eventos já aconteceram. Descobrir um novo espaço para visitar, parece simples, mas pode se transformar numa tarefa complicada. Para que possa aproveitar a primavera da melhor forma, a P55 reuniu para si uma lista de cinco exposições de arte que aconteceram durante junho. Já tem planos para o próximo mês? Espreite este guia e descubra a proposta perfeita para si.
(Os textos curatorias presentes estão publicados nas galerias/museus)
Lehmann + Silva
DANIEL LERGON
28.05.2022 - 16.07.2022
CLAREIRA
Estimulado pela sua curiosidade em relação aos enigmas científicos, Daniel Lergon experimenta efeitos de luz e reações químicas. Embora se intitule de pintor, raramente usa tinta. Em trabalhos iniciais, como Cold Fire (2008), aplicou verniz transparente em tecidos de alta tecnologia, explorando a ótica e a percepção, enquanto em Lapetus (2010), utilizou materiais retrorrefletivos para destacar o contraste entre claro e escuro. Em trabalhos recentes, combinou metais elementares como cobre em pó, zinco e ferro oxidado com água para formar padrões efémeros. Lergon acredita numa abordagem fenomenológica da experiência de uma obra de arte, sustentando que o espaço de uma pintura funciona como um “espaço próprio”, no qual se tem uma reação pessoal à matéria física.
Museu Berardo
Julião Sarmento. Abstracto, Branco, Tóxico e Volátil
Exposição temporária 12/05/2022 - 01/01/2023
A exposição Abstracto, Branco, Tóxico e Volátil, título de uma peça de 1997, é a primeira grande exposição que se realiza após a morte de Julião Sarmento, reunindo um conjunto muito significativo de obras que marcaram a sua carreira e cuja seleção resultou de uma estreita colaboração do artista com a curadora da exposição, Catherine David.
Foi um projeto pelo qual o artista lutou e no qual se empenhou de uma forma extraordinária. O layout desta exposição e a disposição das obras nas salas foram finalizados dois meses antes da sua morte. Para Julião, a instalação dos seus trabalhos no espaço era parte integrante das obras que expunha, pois considerava de capital importância a relação que se estabelece entre o trabalho, o espaço que o envolve e o espectador. Abstracto, Branco, Tóxico e Volátil é uma exposição em que o Julião está muito presente e em que podemos não só sentir a sensualidade das suas texturas e a complexidade das suas composições, mas também descobrir as suas imagens enigmáticas, delicadas e perversas, de uma enorme sofisticação plástica e teórica.As suas obras não apresentam conclusões, teses ou hipóteses. Não fazem perguntas, nem dão respostas; antes, propõem-nos que entremos no seu jogo entre a dissimulação e a revelação, e que construamos as nossas histórias.
Julião Sarmento nasceu em Lisboa no dia 4 de maio de 1948. Frequentou os cursos de Arquitectura e Pintura da ESBAL entre 1967 e 1974. Foi um dos artistas portugueses com uma carreira internacional mais solidamente firmada, tendo construído um percurso artístico de enorme coerência, riqueza e intensidade.
Em permanente renovação e em estreita ligação com as práticas artísticas da sua época, que vão do pós-pop até à atualidade, utilizou uma grande diversidade de meios e técnicas, como fotografia, pintura, colagem, desenho, escultura, performance e filme, para implantar um vocabulário conciso de imagens ambíguas. O artista foi muito influenciado pela cultura anglo-saxónica e pelos temas e imagens da literatura e do cinema, muito presentes nas suas obras através de citações e montagens. A sua obra tem uma dimensão performativa e teatral, acumulativa pela permanente convocação de temas e de representações intemporais — como a mulher, a sexualidade, a transgressão, a memória, a dualidade, a casa, a palavra — que funcionam como eixos estruturantes da sua obra. A sua carreira inicia-se na década de setenta, mais precisamente em 1974, quando começa a utilizar a fotografia não como meio de representação mas antes para captar, enumerar e encenar situações, focalizar os detalhes.
As suas pinturas confrontam fragmentos, imagens de glamour e de violência, com a palavra, que aparece como forma de pesquisar a ambivalência das coisas, como um jogo de significados entre o que se manifesta e o que se esconde. Esta dimensão fragmentária que Julião Sarmento explora nas suas obras ao longo de toda a sua carreira vai-se simplificando e depurando progressivamente nos anos oitenta e noventa, quando a sua pintura se torna mais contida, mais minimal.
É na década de oitenta que Julião Sarmento se torna conhecido como pintor, conotado com o chamado «regresso à pintura», e que inicia o seu percurso internacional, participando nas documenta de Kassel em 1982 e 1987. O período das suas Pinturas Brancas, em que predomina o desenho a grafite sobre fundo branco e em que a figura feminina é representada com enorme contenção e subtileza, coincide com a plena consagração nacional ao representar Portugal na 46.ª Bienal de Veneza, em 1997. Igualmente importantes foram as suas colaborações com Atom Egoyan, na 48.ª Bienal de Veneza, em 2001, e com John Baldessari e Lawrence Weiner, num filme realizado em 2004.A sua obra que foi alvo de inúmeras exposições em grandes instituições nacionais e internacionais, e foram muitos os historiadores e críticos de arte, como Germano Celant, Alexandre Melo, Nancy Spector, Delfim Sardo, Hubertus Gabner, James Lingwood, Adrian Searle, Louise Neri, entre outros, que se interessaram e escreveram sobre as suas obras. — Rita Lougares, Diretora Artística
São Mamede
14 de maio — 30 de junho 2022
OUTRO LUGAR II de Fernando Gaspar
A pintura de Fernando Gaspar encontra se ligada a uma abstracção gestual com um Retenue que significa uma aproximação entre Pierre Soulages e nos negros profundos de Hans Hartung, processos esses de trabalho onde a vivência do pintor é aproximada ao pintor do cavalete, École de Paris e mais tarde o movimento Rapard- Surface. Fernando Gaspar não está preocupado na sua linha de trabalho em estabelecer paralelos com a realidade visual, ele vê pela sua síntese, a sua linha situa se numa abstracção, onde o papel da imagem é referido na sua própria profundeza visual. Onde esses fundos parecem nuvens de um mundo onde a própria pintura reside em vácuos, eis o segredo! Com uma coloração projectada numa linha que leva nos a um compasso de espera entre a composição e a profundeza da imagem reflectida na imagem do próprio quadro, tudo isto esclarece que a abstracção é projectada na tela, mas é ele observa e define o que é indefinível. Se considerarmos que é sempre difícil de definir a pintura por palavras, compreendemos assim, que a pintura de Fernando Gaspar escolhe um caminho solitário, silencioso, projectado numa aventura, relacionando se entre a pintura e o diálogo, que esta própria interioriza. A cor aparece não como um apontamento decorativo mas sim na viagem onde ela se projecta quase numa monocromia dentro de uma vivência da própria cor monocromática, o tom, os tons que ele utiliza em cada quadro faz com que a composição criada reflicta um trabalho de dualidade onde a força impera num gestualismo dual entra a linha e a tela. É interessante perceber que o intuito deste artista parece ser sempre o mesmo, marcando uma posição diferente, num minimalismo variando em series aonde se projecta o idêntico sendo sempre diferente, a persistência solitária deste pintor concentra se numa atenção profunda para se perceber onde esta a subtil diferença do mesmo sendo diferente. Não quero deixar de mencionar que a sua pintura é algo que nos deixa marcas infindáveis na sua profundeza. Fernando Gaspar situa se entre o gestualismos abstracto e o contemplativo da nuvem que aparece na textura da tela e distância se na sua viagem. Coerência essa entre a profundeza do dialogo que ele estabelece entre o oficio que toma a forma da pintura. Dou margem absoluta a esse mistério do concreto do visual, onde ele domina a técnica das cinzas carvão, indo actualmente para a escultura que acaba e permanece em painéis de pintura, pintura essa que o move até nós no fundamento da cultura e na diferença do que ele gera.Figurar a memória, memórias no tempo, tempo esse dedicado a pintura pelo artista que nos transmite a sua visão interior plástica. — João Moniz, Curador
Centro de Arte Oliva
Entre as Palavras e os Silêncios – Obras da Coleção Norlinda e José Lima
18 março — 30 dezembro 2022
Curadoria: Luísa Soares de Oliveira
Entre pinturas, desenhos, fotografias, esculturas e instalações, realizadas por alguns dos mais reconhecidos artistas contemporâneos, portugueses e estrangeiros, a presente exposição evidencia a diversidade da Coleção Norlinda e José Lima em termos estilísticos, temporais e geográficos. As obras selecionadas contextualizam o dualismo entre o discurso e o silêncio na arte contemporânea. Segundo a curadora Luísa Soares Oliveira, “entre as obras que apelam à narrativa e as que parecem exigir o silêncio, cada um de nós construirá um percurso pessoal, sabendo de antemão que ele inclui também as memórias e as vivências que trazemos connosco. A exposição convida o público a estabelecer por si os discursos, os silêncios e as conexões que emergem quando perante as obras, dotando-o dos seus instrumentos de compreensão da expressão artística, e é ao exercício dessa liberdade que esta exposição pretende responder”.
A Coleção Norlinda e José Lima é uma das maiores coleções de arte privadas do país: compreende aproximadamente mil e duzentas obras de arte onde estão representados cerca de duzentos e cinquenta artistas portugueses e duzentos e trinta artistas internacionais. Foi iniciada em 1980 e abrange um período de quase cem anos balizado entre 1926 e 2020, com maior concentração na produção artística dos últimos quarenta anos. O acervo, em depósito no Município de S. João da Madeira desde 2008, está acessível ao público através de um programa regular de exposições no Centro de Arte Oliva.
Artistas: Adriana Varejão, Álvaro Lapa, Ana Hatherly, Ana Jotta, Ana Luísa Ribeiro, Ana Vieira, André Cepeda, Andres Serrano, Andy Warhol, Ângela Ferreira, Ângelo de Sousa, Anish Kapoor, António Dacosta, António Olaio, António Palolo, Arlindo Silva, Árpád Szenes, Bernard Rancillac, Carlos Correia, Cindy Sherman, Cristina Iglesias, Damien Hirst, Daniel Melim, Diogo Pimentão, Domingos Pinho, Eduardo Arroyo, Eduardo Batarda, Eduardo Chillida, Erró (Guðmundur Guðmundsson), Fátima Mendonça, Fernando Calhau, Fernando Lanhas, Francisco Tropa, Franz West, Gaëtan, Gonçalo Pena, Graça Morais, Helena Almeida, Henri Michaux, Jacques Monory, João Galrão, João Hogan, João Jacinto, João Louro, João Maria Gusmão + Pedro Paiva, João Onofre, João Pedro Vale + Nuno Alexandre Ferreira, João Vieira, Joaquim Bravo, Joaquim Rodrigo, Jorge Queiroz, José de Guimarães, José Loureiro, José Pedro Croft, Júlia Ventura, Julião Sarmento, Júlio Pomar, Leda Catunda, Lourdes Castro, Luisa Correia Pereira, Maria Capelo, Maria Condado, Maria Helena Vieira da Silva, Mariana Gomes, Mário Cesariny, Mauro Cerqueira, Michael Biberstein, Michelangelo Pistoletto, Musa Paradisíaca, Nan Goldin, Nikias Skapinakis, Noronha da Costa, Nuno Siqueira, Paula Rego, Pedro Cabrita Reis, Pedro Calapez, Pires Vieira, Robert Combas, Robert Rauschenberg, Rui Chafes, Sandra Baía, Sara Bichão, Sérgio Fernandes, Sol Lewitt, Susanne S. D. Themlitz, Tiago Baptista, Valerio Adami, Victor Vasarely.
Centro Internacional Artes José de Guimarães
7 MAIO — 18 SETEMBRO, 2022
“Voz Multiplicada” reúne um conjunto de artistas que exploram a substância narrativa da voz ou que entendem o museu como um espaço de ressonâncias, singularidades e distorções. “Voz Multiplicada” evoca também o tempo da escuta e da fala no museu.
Nos últimos dez anos, o CIAJG consolidou um projeto que alia experimentalismo, liberdade e rigor, a partir do trabalho de José de Guimarães e das suas coleções. O ciclo artístico “Para além da história”, imaginado por Nuno Faria – lançou a ideia de um “museu-labirinto” que se propôs “reencantar” a nossa perceção, a partir das coisas visíveis e invisíveis. Mais do que um programa de exposições, o CIAJG afirmou, nesses anos, a ideia de encontro enquanto ritual. Recentemente, sob o signo incerto da pandemia, inauguramos um novo momento do CIAJG que é a soma do que vem de trás, e que acrescenta outros rumos e outras visões. “Nas margens da ficção”, o título do atual ciclo artístico, coloca as ficções no centro das nossas reflexões. A ficção que possui o seu próprio real, e nos faz experimentar novas formas de nos relacionarmos. Imaginar o futuro do CIAJG, é querer construir novos significados com o léxico que foi semeado: encantamento, história, ficção... E afirmar o ritual do encontro como possibilidade de ativar o museu.