Quem foi Noronha da Costa?
O artista português Noronha da Costa (1942-2020) destacou-se no panorama artístico pelo estudo constante sobre a imagem e a perceção. A partir do final dos anos 1960, dedicou-se em pleno à pintura, tendo explorando colagens e o "efeito-ecrã" a partir de espelhos e vidros foscos. Na década de 60, criou a sua emblemática técnica com a pistola de spray, que ofereceu uma nova percepção pictórica ao espectador. Conheça mais sobre este artista plástico aqui.
1.Noronha da Costa foi um artista multifacetado
Luís Noronha da Costa nasceu em Lisboa, em 1942, no fatídico ano da Segunda Guerra Mundial. Formou-se em arquitetura na Escola Superior de Belas Artes, em Lisboa, começando a expor com apenas 20 anos. A partir do final dos anos 1960 dedicou-se em pleno à pintura. São dessa altura as suas obras mais "festejadas", para usar a expressão feliz de Bernardo Pinto de Almeida. Tem apenas 27 anos quando é distinguido com o Grande Prémio Soquil. Exatamente trinta anos depois, em 1999, o Parlamento Europeu atribui-lhe o Prémio de Pintura. Em 1983, a Fundação Gulbenkian dedica-lhe a primeira retrospetiva. Mas seria preciso esperar mais vinte anos, para que tivesse direito a uma segunda antologia, a já mencionada mostra da autoria de Faria/Wandschneider, no CCB. Além da pintura, também executou trabalhos artísticos ao nível do cinema experimental. Mais tarde, já no começo da década de 80, haveria obviamente de se interessar pelas imagens holográficas.
2.Noronha da Costa, o pintor do mar, da percepção, da desfocagem e do diálogo com o exterior.
O artista português Noronha da Costa destacou-se no panorama artístico pelo estudo constante sobre a imagem e a perceção. A produção artística de Noronha Costa foi marcada pelo questionamento da percepção, existindo sempre as dualidades, entre real ou virtual, duplicação ou desfoque. A sua obra é reconhecida pelos jogos de luz e sombra, figuras difusas surpreendentes e sugestivas, transpondo a tela tridimensionalmente. Considera que no seu trabalho a imagem não está no plano da tela. "O que eu procuro é exatamente sabotar o plano da tela, não na perspetiva geométrica ou tradicional mas por uma perspetiva holográfica de projeção da difusão". Também afirma "A técnica que utilizo "spray" procura que desenho e pintura sejam o mesmo. A imagem aparece como projeção (aqui, projeção pelo spray). Daí a sua relação com o cinema."
3. Noronha da Costa quis romper com as práticas pictóricas da altura
Inicialmente começou por explorar colagens e o "efeito-ecrã" a partir de espelhos e vidros foscos. Estas assemblages que consistiam de elementos diversos, como espelhos, vidros foscos ou transparentes, um foco de luz ou alguma silhueta pintada a aerógrafo, convocavam o profundidade, cor, forma, perspectiva e sobretudo a percepção do quadro. Desmontados e reconstruídos estas colagens assemelhavam-se à ideia de um puzzle. Na década de 1960, criou a sua emblemática técnica com a pistola de spray. A partir deste método, Noronha da Costa criou imagens que nos são próximas — no entanto, permanecem noutra divisão, dando-nos a perceção que existe um vidro fosco a dividir. A partir da década de 1980, há um destaque para as imagens fantasmagórica e quase espectrais, e uma incessante procura da própria essência da pintura.
4.Foi esquecido durante algumas décadas.
Para o seu esquecimento terá contribuído a mudança de paradigma verificada em meados dos anos 80. Pinto de Almeida afirmou: “A minha geração ficou deslumbrada com a abertura de Portugal à Europa. E descurou a defesa de artistas de primeira importância. Não só Noronha da Costa, mas também Helena Almeida (1934-2018) ou Ângelo de Sousa (1938-2011)", redescobertos ou resgatados muito mais tarde. Contudo, houve uma tragédia maior de que ninguém fala abertamente: a morte da musa do artista. Noémia Cacho Rodrigues, faleceu em 1990, com apenas 48 anos. Noronha da Costa, garante quem o conheceu, não voltaria a ser o mesmo.
Num artigo do Jornal de Notícias sobre Noronha da Costa afirmam sobre o seu esquecimento: “Há quem hoje lamente "o manto trágico do esquecimento" que desceu sobre Noronha da Costa demasiado cedo. Mas João Bénard da Costa, que desapareceu em 2009, percebeu muito antes que não se regressa desse manto, por muito que muitos tentem. A propósito da exposição de 2003, escreveu: "Ninguém em Portugal levou mais longe essa demanda do sublime. Só não julgo, ao contrário dos comissários, que essa evidência seja a partir de agora evidente. Em terra de cegos, só quem tem um olho é rei. Quem vê com os olhos todos, o corpo todo, a alma toda - como Luís Noronha da Costa - só pode estar condenado ao exílio e à maldição."
5.As semelhanças entre as obras de Noronha da Costa e de Gerhard Richter
Gerhard Richter, foi um artista alemão, que em tempos foi considerado o pintor mais caro do mundo. Bernardo Pinto de Almeida fez esta associação entre os dois pintores, o que levou Noronha da Costa explicar o que o distinguia do alemão, numa entrevista ao "Jornal de Negócios": "Talvez a nossa obra tenha uma certa parecença formal que tem que ver com aquilo a que chamo de difusão e não desfocagem - a desfocagem tira-nos informação do objeto, a difusão coloca-nos o objeto no espaço, um pouco como os hologramas. É isso que faço. E faço-o, talvez, uns quatro ou cinco anos antes das primeiras experiências do Gerhard Richter nesse sentido."