Júlio Pomar (1926-2018), um dos artistas mais conceituados do século XX português, distinguido com numeroso prémios, com obra devidamente apreciada em incontáveis exposições, teve sempre a necessidade de “recorrer às palavras” e de estar perto delas. Não só acompanhou a literatura com ilustrações, como fez obra poética e letras de fados, muitos já musicados. Conheça mais sobre este fabuloso artista.
1.Durante o período escolar conheceu alguns dos mais importantes artistas portugueses da primeira metade do século XX.
Na escola de artes lisboeta, que conheceu Marcelino Vespeira, Mário Cesariny, Fernando de Azevedo, Pedro Oom, José Gomes Pereira e Artur Cruzeiro Seixas, entre outros, que se haviam de afirmar como alguns dos mais importantes artistas portugueses da primeira metade do século XX. Seguiu os estudos para António Arroio, seguiu-se, naturalmente, a Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, para onde entrou em 1942. Dois anos depois da entrada para as Belas-Artes de Lisboa, decidiu mudar-se para o Porto, devido à descriminação de que eram alvo os ex-alunos da António Arroio. Começou a frequentar a Escola de Belas-Artes portuense, travando conhecimento com o grupo de Fernando Lanhas, Júlio Resende e Amândio Silva, responsável pelas chamadas “Exposições Independentes”.
2.O primeiro quadro vendido foi Os Saltimbancos a Almada de Negreiros.
A oportunidade surgiu depois de uma exposição que fez com colegas no ateliê que partilhavam na Rua das Flores, mesmo ali ao lado. O comprador? José de Almada de Negreiros, que fez questão de expor a pintura ao público no VII Salão de Arte Moderna do Secretariado de Propaganda Nacional.
3.Esteve preso.
Depois de se juntar às Juventudes Comunistas, ainda em 1945, e de fazer parte, no ano seguinte, do MUD Juvenil, Júlio Pomar foi preso pela PIDE, em 1947. Apesar da prisão, algumas das suas obras neorrealistas mais emblemáticas, como Almoço do Trolha ou Resistência, chegaram a ser expostas na Exposição Geral de Artes Plásticas desse ano. Mas os frescos que pintou para o Cinema Batalha, no Porto, não teriam a mesma sorte: o trabalho, realizado entre 1946 e 1947, foram eliminados já depois da inauguração pela polícia política, em 1948. Hoje, porém, “é reconhecida a importância da sua fase neorrealista, em que a arte assume a forma de protesto social”.
4.Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, entre 1964 e 1966
Instala-se definitivamente na capital francesa a partir de 1963 e será bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian entre 1964 e 1966. A capital francesa fica a sua segunda cidade: passará a dividir o tempo entre Paris e Lisboa, a terra onde nasceu em 1926 e e à qual só volta após o 25 de Abril. Os temas que pinta vão desde a relação com a literatura, a tradição popular (da apanha do sargaço às tauromaquias) e os acontecimentos da época, como o Maio de 68, bem como um diálogo com mestres do passado (Uccello, Ingres, Courbet, van Eyck, Matisse), cruzado com o erotismo que dominará a sua obra nos anos 70.
5. A Primeira Exposição Retrospectiva
A primeira retrospectiva da obra de Júlio Pomar foi organizada em 1978 pela Fundação Gulbenkian e exibida na sua sede em Lisboa, no Museu Soares dos Reis no Porto e, parcialmente, em Bruxelas. Em 1986, uma nova exposição antológica foi apresentada também pela Fundação Gulbenkian em museus de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, e por fim no Centro de Arte Moderna, em Lisboa.
6.Fez ilustração para diversos livros
Entre as numerosas obras que ilustrou contam-se “Guerra e Paz” de Tolstoi (1956-58); “O Romance de Camilo, de Aquilino Ribeiro (1957); “D. Quixote”, de Cervantes (em 1960 e de novo em 2005); “A Divina Comédia”, de Dante (1961, desenhos reeditados em 2006 com novos retratos do autor); “Emigrantes” e “A Selva”, de Ferreira de Castro (1966 e 1973); “Pantagruel”, de Rabelais (1967); “Kidama Vivila”, de Gilbert Lely (1977); “Rose et Bleu”, de Jorge Luís Borges (1978); “Mensagem”, de Fernando Pessoa” (1985); “La Chasse au Snark”, de Lewis Carroll (1999).
7.Criação do Atelier-Museu Júlio Pomar
O ano que foi condecorado por Sampaio marcou uma nova fase na carreira do artista, com a abertura do Atelier-Museu Júlio Pomar, instalado num edifício perto da sua residência em Lisboa. O acervo de cerca de 400 obras de pintura, escultura, desenho, gravura, serigrafia e artes decorativas, foi depositou no museu monográfico dedicado à sua obra: o Atelier-Museu Júlio Pomar, fundado pela Câmara Municipal de Lisboa e aberto ao público em 2013, num edifício do século XVII alvo de uma reabilitação da autoria do arquiteto Siza Vieira, amigo do pintor.