A exposição "Goya: Testemunho do seu Tempo" reúne dez pinturas que serão apresentadas pela primeira vez em Portugal.
A exposição "Goya: Testemunho do seu Tempo" reúne dez pinturas que serão apresentadas pela primeira vez em Portugal, juntamente com quatro séries de gravuras do mestre espanhol. A mostra que estará patente até 09 de julho é uma iniciativa da Fundação D. Luís I e da Câmara Municipal de Cascais, no âmbito da programação do Bairro dos Museus.
Considerado um dos mais importantes artistas espanhóis do século XVIII, e precursor da Arte Moderna pelo caráter inovador da sua obra, Goya inspirou correntes artísticas que surgiriam nos séculos seguintes, do Romantismo ao Surrealismo. As curadoras Maria Toral e Maria Oropesa fizeram uma seleção que propõe um percurso pelos temas mais importantes da obra gráfica e pictórica de Francisco de Goya, para evidenciar a forma como "abriu portas a um novo conceito de arte".
De entre as 10 pinturas expostas pela primeira vez em Portugal, destacam-se as seis que formam a série "Jogos Infantis", produzidas entre 1775 e 1786, em que Goya retrata com naturalidade cenas da vida quotidiana e as brincadeiras de um grupo de crianças. As obras pertencem à Coleção da Fundación de Santamarca y de San Ramón y San Antonio, sediada em Madrid.
Nos detalhes destas obras, os visitantes poderão observar como Goya também imprimiu aqui uma aguda observação sobre a sociedade do seu tempo, chamando atenção para as amargas desigualdades sociais da época. Por exemplo, em "Crianças no Baloiço", o pintor retrata algumas crianças vestidas com uniformes escolares impecáveis, que contrastam com as roupas esfarrapadas que outras crianças da mesma idade envergam. ou na cena que se desenrola em "Crianças à Luta por Castanhas", em que um homem atira, de uma janela, castanhas para as crianças que lutam entre si para conseguir apanhar alguma.
Destacam-se ainda duas obras que pertencem ao Museu Goya – Coleção Ibercaja, "Baile de Máscaras" (c. 1808-1820) e o estudo para "O Dois de Maio de 1808 ou A Carga dos Mamelucos" (1814), uma das suas obras-primas, hoje parte da Coleção do Museu do Prado, em Madrid. Os outros dois quadros são pinturas religiosas que Goya produziu na primeira fase da sua carreira, quando viveu e trabalhou em Zaragoza, sendo relevantes porque testemunham tanto os seus primeiros passos como a sua consolidação enquanto artista.
Durante muitos anos pintor oficial da Família Real Espanhola no reinado de Carlos IV, Goya foi também um cronista das questões sociais e das guerras do seu tempo, como evidenciam as suas espetaculares quatro séries de gravuras que o Centro Cultural de Cascais apresenta, três delas na totalidade. Produzidas a partir da década de 1790, um período especialmente turbulento na vida do artista em que uma doença não identificada o deixou surdo, as gravuras são também a resposta do artista à grande convulsão política e social a que assistiu durante a Guerra Peninsular, travada por Napoleão Bonaparte contra Espanha e Portugal.
A sequência é iniciada com "Os Caprichos", de 1799, onde o artista satiriza os excessos da sociedade do seu tempo numa série de 80 gravuras sobre vícios e defeitos, religião, moralidade, superstição, bruxaria e a Inquisição, incluindo o famoso "O Sonho da Razão Produz Monstros". Embora não tenham circulado muito tempo – Goya retirou-os de venda devido ao receio de se tornar ele próprio alvo da Inquisição – "Os Caprichos" tornaram-se a sua obra mais conhecida e influente.
O segundo conjunto de gravuras apresentado é "Os Desastres da Guerra", uma série de 85 imagens feitas entre 1810 e 1820 que retratam as atrocidades e as consequências da guerra que testemunhou e compõem uma crítica reflexão social e política. No mesmo período, aos 70 anos, Goya produziu a terceira série, intitulada "A Tauromaquia", sobre a história e a tradição das touradas em Espanha.
A exposição termina com a apresentação de treze gravuras que fazem parte de "Os Disparates ou Provérbios" (1815 – 1824), a última série produzida por Goya e que são as mais enigmáticas das suas composições. Em representações oníricas marcadas pela violência, pelo grotesco e pelas trevas, que ainda hoje geram as mais diferentes reações e interpretações, o artista aborda os mais diversos temas, do Carnaval à política. Certo é que a exploração do subconsciente nestas obras preconiza a arte dos expressionistas e surrealistas no século XX.
"GOYA, TESTEMUNHO DO SEU TEMPO" enfatiza o impacto de Goya em artistas que lhe sucederam, de Pablo Picasso, a Edouard Manet, Joan Miró e Salvador Dalí, e o seu papel de destaque na história da arte ocidental, onde é frequentemente citado como um grande mestre e o primeiro artista verdadeiramente moderno, tanto pela sua inventividade e o seu domínio das técnicas que empregou, como pelo seu posicionamento político e firme oposição à guerra e à ignorância.