Suave e com um tom leve, a aguarela é uma técnica de pintura presente na história da arte, desde do paleolítico até à contemporaneidade. Ao longo dos séculos, vários artistas como Tadio Gaddi, Albrecht Dürer, Van Dyck e William Turner criaram manchas suaves e transparentes de cor sobre o papel através da junção de pigmentos extremamente moídos, incorporados com goma-arábica e água. Aprender a pintar em aguarela pode ser um processo complexo quando nos questionamos sobre os materiais e as técnicas que devemos usar. De forma a ajudar nesta fase inicial, reunimos as dicas e técnicas elementares para quem pretende dar os primeiros passos no mundo da aguarela.
O papel
Vamos iniciar esta jornada pelo o papel. Esta é uma escolha fundamental pois os resultados serão diferentes dependendo deste. No momento de seleção é necessário saber, que há três fatores fundamentais: o formato, a gramagem e a superfície.
No que diz respeito à superfície, esta pode ser divida em três tipos: prensa quente (liso e firme), fria (papel com textura) ou áspera (macio e leve). A prensa fria, que absorve mais água e pigmento, oferece maior controle ao pintor, enquanto que o papel de impressão quente dá a possibilidade de obter detalhes mais nítidos. Em relação ao peso do papel, este é consideravelmente mais pesado que o papel normal para não se desfazer ou curvar aquando da utilização. Por último, temos o formato que pode ser em bloco ou folha individual. Se usar a segunda opção, é vantajoso colocar um fita adesiva nas bordas do papel sobrepondo-o noutra superfície para evitar ondulações ou deformações do papel.
Pincéis e pigmentos
Há vários tipos de pincéis, de grandes a pequenos, rígidos a suaves que pode experimentar de forma a obter a ilustração desejada. Os pincéis de grande formato normalmente são mais usados no início para espalhar os pigmentos. Quando a superfície do papel já tem várias cores é mais fácil usar pincéis pequenos para continuar a sobrepor a cor de forma suave.
Em relação à cor, existem os tubos de aguarelas que permitem um maior uso desta, com uma maior liberdade e flexibilidade em termos de mistura de cores, e as tintas líquidas que facilitam o retorno às cores outrora misturadas.
Técnicas de pintura
Para entender como funciona a pintura em aguarela apresentaremos algumas técnicas para se iniciar de forma confortável neste mundo. No método Wet-on-wet , tal como o nome refere, coloca-se tinta húmida no papel húmido. Comece por molhar a superfície com o pincel embebido em água, deslizando de forma a construir pequenos retângulos no papel. Posteriormente, molhe o pincel com uma cor à sua escolha e experimente deslizar ou salpicar nos retângulos de forma obter resultados díspares quando a tinta secar. Como não há muito controlo sobre a tinta ao usar esta técnica, após secar poderão aparecer texturas interessantes ou as cores parecerão menos vibrantes. Para obter formas mais precisas existe a técnica Wet-on-dry. Nesta pode pintar de forma livre no papel seco, basta adicionar tinta com um pincel grande e molhado. A textura depende da quantidade de tinta que misturar com a água: se colocar muita água esta será mais diluída e vice-versa.
Para praticar o efeito de uniformização de uma cor, existe a técnica popularmente conhecida como ombré. Comece por colocar um pouco de água na sua paleta e ao lado a cor pretendida. Molhe o pincel e pinte o papel somente com água (sem pigmento). De forma lenta e subtil adicione um pouco de pigmento à sua água, continuando a pintar onde parou. Repita este processo adicionando cada vez mais tinta. Ao longo do processo, não se esqueça de limpar o pincel num pedaço de pano ou papel, para que no final exista uma boa transição da água para a tinta. Quando terminar deverá ter uma faixa de tinta, leve inicialmente e espessa e concentrada no final, como neste exemplo.
Se pretende misturar mais cores numa construção, têm de trabalhar lentamente com duas cores para obter a transição. Para perceber que cores funcionam melhor numa composição e conseguir expressar corretamente as emoções desejadas poderá visualizar a roda de cores. Neste exemplo, comece a pintar com a tinta amarela pura. Esta não deve estar muito diluída, nem concentrada. Limpe o pincel e misture um pouco de laranja com amarelo lentamente. Esta transição de cores deve ser leve e suave, por isso tente evitar mudar demasiado o tom. Aos poucos, misturando as duas cores conseguirá obter um belo gradiente entre o amarelo e o laranja, como no exemplo.
Para criar composições com formas experimente primeiro elementos simples como círculos, triângulos, quadrados e corações. Posteriormente, pinte o fundo com uma cor distinta, usando um pincel maior para preencher as grandes áreas e um fino para pintar em redor das formas.
Agora que já sabe as bases essenciais é fundamental experimentar aos poucos as técnicas, as cores e os pincéis para conseguir criar as suas próprias composições. Na P55 poderá descobrir muitos artistas que utilizam esta técnica nas suas produções artísticas como Paulo Ossião, Júlio Capela, Elena Polyakova, Carlos Carneiro, entre muitos outros.