Os últimos detalhes sobre a participação de Portugal na 59ª Exposição Internacional de Arte
A Bienal de Veneza, a bienal de arte mais antiga, está de volta após um ano de atraso devido à pandemia – e parece estar mais cheia de artistas do que nunca. O tema geral da 59ª Bienal de Veneza "The Milk of Dreams" é inspirado num livro de Leonora Carrington, no qual, como diz Cecilia Alemani, "a artista surrealista descreve um mundo mágico onde a vida é constantemente repensada através do prisma da imaginação, e onde todos podem mudar, ser transformados, tornar-se algo e outra pessoa. A exposição leva-nos numa viagem imaginária através de metamorfoses do corpo e definições da humanidade".
A Representação Oficial Portuguesa, comissariada pela DGARTES, ficará instalada no Palácio Franchetti, o novo espaço expositivo situado nas margens do Grande Canal de Veneza, com o qual foi celebrado um protocolo de utilização para os próximos 3 anos. O projeto Vampires in Space, de Pedro Neves Marques, com curadoria de João Mourão e Luís Silva, irá representar Portugal na Bienal de Artes de Veneza, que decorrerá entre 23 de abril e 27 novembro de 2022. Selecionado no âmbito de um concurso promovido pela Direção-Geral das Artes, “Vampires in Space” terá a forma de uma instalação narrativa que transformará o Palazzo Franchetti através de filmes, elementos instalativos, poemas e cenografia numa inesperada nave espacial habitada por vampiros. A proposta recorre à figura e expectativas sobre o que é um "vampiro" para abordar questões de identidade de género, sexualidade e reprodução queer, bem como formas de família não-nuclear. A instalação contrastará o estilo Gótico Veneziano do Palazzo Franchetti com uma sensibilidade de ficção científica, fantástica e especulativa própria ao trabalho de Neves Marques. O trabalho dá continuação ao percurso anterior, feitio quase todo no estrangeiro, entre Londres, São Paulo e Nova Iorque, em que, através de filmes e video-instalações, aborda temas relacionados com as questões de género, a ecologia ou o feminismo.
O artista português afirmou numa entrevista à Visão: “Tenho vários trabalhos com títulos enigmáticos e por vezes um pouco agressivos, a piscar o olho a uma certa estética ligada ao cinema de série B. Neste caso invoco dois imaginários muito específicos, os vampiros e o espaço. O trabalho parte da imagem do vampiro, enquanto figura literária e cinematográfica. Essa imagem sempre refletiu visões culturais e societárias sobre questões de género, da sexualidade, do corpo e da medicina e da tecnologia. Podemos pensar no séc. XIX, na época vitoriana, quando aparece literariamente a figura do Vampiro, mas também na crise da Sida dos anos 80, na emancipação feminista dos anos 60… Há vários momentos em que a figura do vampiro é adotada. A mim interessa-se pegar nela para refletir essas questões hoje, na saúde, tecnologia e sexualização de género. Por outro lado, há todo um carinho pela ideia de ficção científica e o que ela permite enquanto género estético.”
Pedro Neves Marques é realizador, artista plástico e escritor. Expôs em instituições de arte como Tate Modern, Serpentine Galleries e Gasworks em Londres; Jeu de Paume em Paris; Pérez Art Museum of Miami, e Anthology Film Archives, New Museum, SculptureCenter e e-flux em Nova Iorque; V-A-C Foundation em Veneza; Fondación Botín em Madrid; Times Guangdong Museum em Cantão, China, entre outros. Os seus filmes passaram em festivais como o DocLisboa e o IndieLisboa em Portugal e ForumdocBH no Brasil.