Artur Bual, o Pioneiro do Expressionismo Abstrato em Portugal
Foi um dos maiores pintores portugueses da segunda metade do século XX, pioneiro da pintura gestual (expressionismo abstrato) em Portugal. Debaixo de um regime ditatorial, Artur Bual (1926-1999) conseguiu acompanhar as tendências da arte mundiais, ao abrir as portas para expressionismo abstrato - movimento artístico que adquiriu relevância na época do pós-guerra na América e posteriormente na Europa. As pinceladas rápidas, largas e densas das suas pinturas ficaram eternamente na memória visual, tendo tido assim uma grande influência noutros pintores até ao presente. Saiba mais sobre o artista que influenciou de forma determinante a arte em Portugal neste artigo.
Quem foi Artur Bual?
Artur Bual começou a pintar aos 14 anos, estudou pintura da Escola de Arte António Arroio e em 1947 iniciou a sua carreira como pintor. A sua primeira exposição individual foi no início da década de 1950, altura em que foi morar para Amadora com a sua família. Entre 1959 e 1960, foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris, tendo nesta época estado pela primeira vez em contacto com as obras do expressionismo alemão. O pintor português foi o primeiro a abrir as portas para a corrente artística tão célebre do outro lado do Atlântico. O expressionismo abstracto inspirado nas obras europeias de Hartung, Wols, Soulages, adquiriu relevância na época do pós-guerra na América com Jackson Pollock, Willem de Kooning, Mark Rothko, entre outros artistas. Em Portugal, vivia-se ainda debaixo de um regime ditatorial e as tendências estendiam-se entre o neo-realismo e o surrealismo. Contudo em 1958, Artur Bual atinge o seu expoente máximo, dando os primeiros passos para a pintura abstrata com pinceladas rápidas, largas e densas. As suas obras foram produzidas de forma apaixonada e sensível, expressando as suas vivências através da densidade cromática. Sendo um experimentalista nato, foi variado nos suportes, desde tela a madeira, como óleo, acrílico ou a fusão de vários materiais. O historiador João Augusto França declarou a firmeza e determinação de Artur Bual criar nas características do expressionismo abstrato como: "a coragem de navegar no mar alto".
Obras de Artur Bual
1.Os retratos de Jesus Cristo
Os retratos, um género artístico utilizado para descrever a figura de uma pessoa, tornaram-se uma parte fundamental na obra de Artur Bual, sendo muitos invadidos pela espontânea expressão do abstrato. Neste género vemos fortemente presente a temática religiosa, desde as pinturas da crucificação que dão ênfase à face de Jesus Cristo, até à representação da última ceia. De facto, a temática religiosa esteve intensamente presente na carreira artística de Artur Bual, não só na pintura mas inclusive na escultura e cerâmica.
2. Escultura
Tal como na pintura, o artista soube criar na escultura uma linguagem emotiva e espontânea, utilizando os meios à sua volta. Exemplo disso, é a escultura “Homenagem à Agricultura”, uma composição plasticamente coerente que evidencia um grande sentido de equilíbrio e harmonia, que sempre acompanhou as produções de Artur Bual. O título refere que esta escultura é uma homenagem à agricultura, contudo esta não representa os valores simbólicos e ancestrais, mas manifesta as novas técnicas introduzidas pela modernidade.
3. Entre o figurativo e abstracionismo
De uma maneira notável, Artur Bual estabeleceu uma relação entre o gesto livre e a estrutura do figurativo, levando-o assim a ser um dos mais notáveis artistas da pintura portuguesa.
4. O corpo humano e animal
“Na representação esquemática do nu feminino, em atitude de pose erótico-sensual, há algo de irreverente e provocatório. Noutras obras, a relação com o corpo humano está na origem de um biomorfismo orgânico, abstractizante. O antropomorfismo é, aliás, uma constante na obra de Artur Bual, mesmo quando reduzido a apontamentos sintéticos ou elementares sinais gráficos. No traçado gestual de cavalos em movimento, a figura tende a reduzir-se a uma ágil caligrafia. Muitos dos seus desenhos e algumas pinturas abstractas mais depuradas evidenciam o sentido caligráfico de uma linguagem, que começa por se exercer em função da nudez branca do suporte, antes de ser o preenchimento total da superfície.” - Eurico Gonçalves (Pintor e Crítico de Arte)
5. A História de Artur Bual para lá da Pintura Abstrata
O artista português foi conhecido pelas pinturas abstratas, mas também trabalhou como escultor e ceramista, tendo executado os painéis-mosaicos para a estação da CP da Amadora e para o Metropolitano de Lisboa. Simultaneamente desempenhou outras funções, como diretor plástico em diversas obras de teatro levadas à cena no Teatro Experimental de Cascais e do Porto, também foi diretor gráfico da Revista de Artes e Letras "Catavento" e ilustrou os livros "Instinto Supremo" de Ferreira de Castro e "As Alegres noites de um Boticário" de Miguel Barbosa. Foi distinguido com vários prémios, entre os quais o Prémio Nacional Amadeo de Souza Cardoso, em 1959, um dos marcos na sua carreira. Outros gratificações foram o Prémio Nacional Sousa Cardoso, na I Bienal de Paris; o 1º Prémio do Salão de Arte Moderna da Junta de Turismo da Costa do Sol; o 2º Prémio do Concurso de Pintura da BP; o Prémio Artes Plásticas 1983; Prémio da Revista "Nova Gente" e Artes Plásticas em 1984. Além disso, em 1997, o pintor foi distinguido com o Prémio Carreira da MAC (Movimento de Arte Contemporânea).
Onde posso ver as obras de Artur Bual?
Pode encontrar uma coleção de obras de Artur Bual aqui! No espaço físico estão em diversas colecções nacionais e estrangeiras, nomeadamente no Palácio de Justiça de Lisboa, no Centro de Arte Moderna na Fundação Calouste Gulbenkian, no Museu Nacional de Arte Moderna, no Museu Nacional de Arte Contemporânea e na Câmara Municipal da Amadora. Além disso, o artista português também expôs em variados espaços, tais como as Galerias Pórtico e Galeria Diário de Notícias em Lisboa, Galeria Gees van der Geer na Holanda, Galeria do Ayuntamiento de Córdoba, Espanha, Real Senado, Macau e Hong-Kong, entre outros.
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