Em agosto de 1888, Vincent van Gogh enviou ao seu irmão Theo um total de 36 pinturas que fez enquanto estava em Arles, França. Como sempre, o pintor em dificuldades foi extremamente crítico consigo mesmo. “Entre elas há muitas com as quais estou desesperadamente insatisfeito”, escreveu numa carta, acrescentando que as enviou apenas para dar ao irmão uma “vaga ideia” do lugar que agora chama de lar.
Uma dessas pinturas, um autorretrato a óleo sobre tela de 45 por 43 centímetros representando o artista a caminhar por uma estrada ensolarada com materiais de arte nas mãos, foi comprada pelo Museu Kaiser Friedrich em Magdeburg, Alemanha, em 1919. Intitulada “O Pintor na Estrada para Tarascon”, foi imortalizada numa fotografia colorida tirada na década de 1930 - uma decisão fatídica por parte da equipa do museu, já que a pintura em si pode não ter sobrevivido à Segunda Guerra Mundial.
Tendo escapado por pouco da iconoclastia da Alemanha nazista contra a arte moderna e – na sua opinião – “degenerada”, “O Pintor na Estrada para Tarascon” foi retirada do acervo do museu e transferida para uma mina de sal próxima para a proteger do bombardeamento britânico. Também localizada dentro da mina havia uma fábrica de motores a jato BMW da Luftwaffe, que ardeu quando as tropas americanas entraram em 12 de abril de 1945.
A causa do incêndio, que durou duas semanas e reduziu a cinzas o interior da mina, ainda é incerta. O major Michael C. Ross, do programa Monumentos, Belas Artes e Arquivos, mais conhecido como Monuments Men, observou que foi iniciado “por pessoas deslocadas que entraram na caverna para saquear” ou “no segundo caso, talvez através da negligência dos guardas dos EUA”, mas que não havia provas suficientes para chegar a uma conclusão definitiva. (A Monuments Men and Women Foundation ofereceu uma recompensa de até US$ 25 mil pela pintura.)
Corria o boato de que estas “pessoas deslocadas” poderiam ter sido os trabalhadores cativos que trabalhavam na fábrica, embora seja igualmente provável que o saque tenha sido feito pelos próprios nazis. Outros possíveis culpados incluem cidadãos locais e até militares americanos.
Surpreendentemente, “O Pintor na Estrada para Tarascon” é uma das seis pinturas de Van Gogh que se pensa terem sido perdidas ou destruídas – um registo invulgar tendo em conta a produtividade do pintor. Ainda assim, alguns acreditam que ainda pode estar por aí nalgum lugar. Foi o caso de “Wider Hans Worst”, um panfleto do teólogo alemão Martinho Lutero que também tinha sido guardado dentro da mina e foi milagrosamente devolvido a Magdeburg em 1996.
“O Pintor no Caminho para Tarascon” ocupa um lugar importante na obra de Van Gogh, pois é o único autorretrato que mostra o corpo inteiro do pintor, em vez de apenas a cabeça e o tronco. Mesmo que a pintura nunca seja recuperada, temos a sorte de ter essa fotografia.
Fonte: Artnet News