Quem é Pedro Calapez?
O artista português Pedro Calapez nasceu a 24 de fevereiro de 1953, em Lisboa. Estudou Engenharia no Instituto Superior Técnico de Lisboa, exercendo em simultâneo trabalhos como fotógrafo profissional. Dado o seu percurso académico, ninguém conseguiria prever a viragem para a prática da pintura. Entre 1972 e 1975 frequentou os cursos de iniciação artística da Sociedade Nacional de Belas-Artes, seguindo a sua formação em Pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. Durante o final década de 1980, começou-se afirmar como pintor, em exposições como Depois do Modernismo (1983) e Arquipélago (1985). A par da actividade artística desenvolveu carreira no ensino, enquanto professor e responsável pelos departamentos de desenho e pintura no Ar.Co (1986-1998).
O percurso artístico de Pedro Calapez
“É com a ideia de provocar o olhar que a desconstrução da superfície pintada ocorre. Tudo começa quando me apercebo que depois de ver determinada pintura e querendo reavivá-la na minha memória apenas alguns detalhes são encontrados, ou melhor, diversos detalhes são claros e nítidos, mas surgem numa sequência imprevisível, sem relação com a história contada no quadro. Afinal esses fragmentos aparecem na proporção directa do meu interesse ou capacidade de observação e memorização . As minhas obras que são agrupamentos de painéis pintados pretendem reconstruir esse processo da memória, refazer um quadro com base em fragmentos. Cada painel pode ser visto isoladamente mas algo distinto surge do confronto com os que se encontram na sua vizinhança. Ao afastar-me o olhar depara agora com a totalidade dos fragmentos criando uma nova unidade, como se de uma única obra se tratasse. A decomposição promove assim o seu contrário. O que é parte e o que é todo confundem-se completando a obra.” — Pedro Calapez sobre o seu percurso artístico em entrevista para Carpe
As caraterísticas artísticas e o rigor metodológico das obras de Pedro Calapez
Integrado no contexto de eclosão do Pós-Modernismo, o seu trabalho desenvolveu-se contudo à margem das narrativas desregradas em torno do regresso à pintura e à escultura. As suas obras fundam-se na disciplina do desenho, tendo a explorar com grande rigor metodológico por peças marcadas pela apropriação, descontextualização e recontextualização de imagens populares ou eruditas ou não, ligadas à cultura popular da banda desenhada ou às arquiteturas imaginárias e arruinadas que Piranesi imaginava e desenhava no século XVII. Na base desta obra estão reproduções de imagens, constituídas em dossiers que o artista recolhe, guarda e reutiliza indefinidamente. Toda a sua obra, pintura e desenho, parte da apropriação dessas imagens, da sua descontextualização e posterior recontextualização, numa atitude pós-moderna que Calapez partilha com outros artistas da sua geração. Tematicamente, a sua pintura ocupa-se da construção de um espaço, ou de uma multiplicidade de espaços e, mais recentemente, da capacidade de reproduzir um espaço através da pintura e do desenho. A arquitectura é um dos seus principais referentes, dando o mote para a reflexão acerca do espaço enquanto pré-existência e enquanto algo construído e passível de manipulação. O trabalho de Pedro Calapez estabelece-se entre a abstração e a representação de lugares suspensos algures entre o esboço, o cenário e a ruína. A representação humana, invariavelmente ausente, cede lugar à presença do espectador que percorre livremente entre o espaço expositivo e o espaço da obra.
“Tudo começa no rosto de outro. Mesmo na pintura e no desenho de Pedro Calapez [Lisboa, 1953]. Sobretudo, nesse risco de indiscrição que é o desenho. Não na proximidade de luz que possa trazer e guardar, mas na expressão verbal da sua sombra; esta, sim, é muito mais do que uma mímica, é uma voz que comanda a fragilidade do traço, que não o deixa morrer só, prisioneiro de indiferença, num desfazer de presença. Com uma palidez de bico de lápis ou de ténue carvão, antes de ser absorvido pela mancha que lhe está próxima, diz-nos: «Olhem-me.» De facto, esse ponto de junção, essa passagem, também ela nos olha, mas o seu rosto que foi de traço, de quebrada linha, de risco entre dois instantes perdeu — perdeu e ganhou — o seu rosto particular, para se deixar ser no rosto geral e maior que é a mancha, a sombra. O risco que prendeu o rosto do outro, que guardou a água de um rio, a árvore de uma floresta, a cor de um incêndio ou que foi a expressão pura do seu próprio não-rosto entrou no segredo da sombra. Foi tomado por um cinza, por um negro, por uma cor que é como o pensamento do próprio desenho [da pintura, mesmo, se quisermos]. Pulsação responsável da vida que corre nos traços de culpabilidade e de inocência do que foi [rosto] e é [rosto de] desenho.” — Texto de João Miguel Fernandes Jorge OIiveira. Publicado por ocasião da exposição «Pedro Calapez – O segredo da sombra – Obras sobre papel 2012-2016», realizada na Fundação Carmona e Costa, de 21 de Maio a 9 de Julho de 2016, com curadoria de João Miguel Fernandes Jorge.
As exposições e a influência de Pedro Calapez
O percurso artístico de Pedro Calapez é sólido, tecido em linhas que transportam diferentes geometrias para dentro dos quadros. O traço dá força à obra e os seus trabalhos revelam-se e distinguem-se na década de oitenta, em Portugal e no estrangeiro. Para além das exposições, individuais e coletivas, as participações na bienal de Veneza de 1986, São Paulo (1987 e 1991) e dos prémios que recebeu, destaque para os prémios União Latina (1990), EDP Pintura (2001), Nacional de Arte Gráfico (Madrid, 2005) e AICA (2005). Pedro Calapez também realizou igualmente cenografias para espetáculos, assim como executou diversas obras públicas tendo projetado uma praça para a Exposição Mundial de Lisboa em 1998 e um painel cerâmico para o metropolitano de Lisboa. O seu trabalho tem sido mostrado em diversas galerias e museus tanto em Portugal como no estrangeiro sendo de salientar as exposições individuais: Petit jardin et paysage, Capela Salpêtriére, Paris (1993); Campo de Sombras, Fundació Pilar i Joan Miró, Mallorca (1997); Madre Agua, Museo MEIAC, Badajoz e Centro Andaluz de Arte Contemporáneo, Sevilha (2002); Obras escolhidas, CAM- Fundação Gulbenkian, Lisboa (2004); piso zero, CGAC- Centro Galego de Arte Contemporáneo, Santiago de Compostela; Lugares de pintura, CAB-Centro de Arte Caja Burgos (2005); “There is only drawing", Fundação Luís Seoane, Corunha, Galiza (2013). Nas diversas mostras colectivas destaca-se a minha participação nas Bienais de Veneza (1986) e S. Paulo (1987 e 1991); Tage Der Dunkelheit Und Des Lichts, Kunstmuseum Bonn (1999); EDP.ARTE, Museu de Serralves, Porto (2001); Beaufort Inside-Outside, Trienal de Arte Contemporânea, PMMK Museum, Ostende (2006); “A colecção”, Museu de Serralves, Porto (2009); “A culpa não é minha, obras da Colecção António Cachola”, Museu Berardo, Lisboa (2010); “La colección”, Fundación Barrié, A Coruña (2011); "93", CGAC–Centro Galego de Arte Contemporânea, Compostela (2013).