O poeta e artista plástico Cruzeiro Seixas (1920-2020) foi um dos fundadores do Surrealismo português, movimento a que sempre se manteve leal, por o considerar "único e revolucionário", na história da arte. Os seus desenhos de traço fino sempre foram fiéis a essa linguagem estética, que surgiu no início dos anos 20 com o intuito de transformar a sociedade e libertar o espírito. Sonhou e imaginou, sem imposições estéticas ou morais, no mundo da arte plástica, mas também da poesia. É autor de um vasto trabalho em diversos campos, desde do desenho e pintura, mas também na poesia, escultura e escultura. Conheça sete factos sobre o último dos surrealista portugueses Cruzeiro Seixas neste artigo.
Foi o último dos surrealistas portugueses, o movimento liderado por Mário Cesariny no final dos anos 1940.
O aparecimento do Surrealismo em Portugal é tardio, apesar dos artistas terem conhecimento deste movimento e da publicação do primeiro manifesto de Breton. Gomes Leal, Teixeira de Pascoaes ou a geração do Orpheu já possuem nas suas obras algumas características surrealistas, embora o Surrealismo em Portugal só venha a impor-se em 1947. Tal como em França, também em Portugal o desenvolvimento do Surrealismo sofreu algumas vicissitudes. Na vasta produção artística, Cruzeiro Seixas percorreu várias fases, desde o expressionismo ao neo-realismo, até chegar ao surrealismo. Foi recorrentemente divulgador da estética surrealista no meio português.
Pintor e poeta
Explorou diversas técnicas e suportes, transmitindo uma constante liberdade poética e plástica. Os seus desenhos, pinturas e esculturas integravam as paisagens metafísicas de Giorgio de Chirico e as figurações metamórficas de Salvador Dalí. Através dos contrastes entre os pretos e os brancos, desenvolveu um universo imaginário muito pessoal. Sonhou e imaginou, sem imposições estéticas ou morais, no mundo da arte plástica, mas também da poesia. Nas suas obras compostas por colagens, poemas e objetos, percebemos que o processo de criação surgia em círculos: de poemas criava quadros e vice-versa. Expressando intensamente os seus sonhos e desejos de liberdade foi um artista que rejeitou as preocupações formais da arte, introduzindo novas técnicas e materiais nas suas peças.
O desejo de liberdade foi sempre o mais importante para o artista
"Nós reinventámos o surrealismo no tempo [da ditadura] do Salazar, quando não existia nada em Portugal. A fome era tão grande e não havia livros. Não chegava cá nada. Mas nós íamos reinventando. Havia ideias extraordinárias, sobretudo no campo da pintura", recordou, numa outra entrevista, o artista plástico.
Viajou pela África, Índia e o extremo Oriente
Na década de 1950, Cruzeiro Seixas partiu para África em 1950, com o desejo de conhecer o continente, alistando-se na marinha mercante. Viajou também pela Índia e pelo extremo Oriente, fixando-se em Angola, em 1952, onde realizou várias exposições que marcaram profundamente a sociedade da época.
Doou a totalidade da sua coleção à Fundação Cupertino de Miranda
Em 1999, doou a totalidade da sua coleção à Fundação Cupertino de Miranda, de Vila Nova de Famalicão, para a constituição do Centro de Estudos do Surrealismo e do Museu do Surrealismo, entretanto criados, existindo hoje o Espaço Cruzeiro Seixas, na Fundação, com uma exposição permanente dedicada ao artista.
Existem vários filmes sobre o artista
A estreia do documentário "As Cartas do Rei Artur", de Cláudia Rita Oliveira, em 2016, o terceiro filme dedicado ao artista plástico, sucedeu-se a "N.O.M.A -- Cruzeiro Seixas" (2006), de Carlos Cabral Nunes, e ainda a "Cruzeiro Seixas: O Vício da Liberdade" (2010), de Alberto Serra e Ricardo Espírito Santo. "As Cartas do rei Artur" resultam de entrevistas a Cruzeiro Seixas, que cruzam imagens da sua pintura com os seus objetos - cadernos de anotações e desenhos do autor. O filme aborda a homossexualidade de Cruzeiro Seixas, e em particular, a relação com Mário Cesariny, que se estendeu por várias décadas.
Ganhou vários prémios
Em 2012, Cruzeiro Seixas foi homenageado pela Feira Internacional do Livro de Santiago do Chile (FILSA), que lhe dedicou um número exclusivo da revista "Derrame", do grupo surrealista chileno. No mesmo ano, recebeu a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores. Em 2017, a Bienal de Arte de Vila Nova de Cerveira comemorou os seus 40 anos de existência com uma homenagem ao artista. Um ano depois, foi Centro Português de Serigrafia, em Lisboa, a recordar o seu percurso, com uma exposição e a edição de um livro com a obra gráfica, a que se seguiria, em 2019, o álbum "Diário não Diário", com "toda a sua dimensão criativa". Recebeu a Medalha de Mérito Cultural pela ministra da Cultura, Graça Fonseca, como "reconhecimento institucional, mas também como reconhecimento pessoal de alguém que se junta aos muitos que o admiram e que em si encontram um olhar que sempre viu mais longe e mais profundo".