Como surgiu o Futurismo?
O manifesto futurista, publicado em 20 de fevereiro de 1909 no jornal francês “Le Figaro”, foi o ponto de partida para o surgimento de várias vanguardas culturais que dominaram a Europa do século XX. No Manifesto, o poeta italiano Filippo Marinetti, exaltou a beleza das máquinas, a velocidade, a luz e a rutura em comparação com as estátuas gregas: “o esplendor do mundo se enriqueceu com uma nova beleza: a beleza da velocidade. Um automóvel de carreira é mais belo que a Vitória de Samotrácia”. No primeiro manifesto futurista de 1909, o slogan era Les mots en liberté ("Liberdade para as palavras") e levava em consideração o design tipográfico da época, especialmente em jornais e na propaganda. Este foi um momento de exploração do lúdico, da linguagem vernácula e da quebra de hierarquia na tipografia tradicional, com uma predileção pelo uso de onomatopéias.
O que é o futurismo? Quais são as suas características?
Os futuristas rejeitaram o passado, sendo as suas obras centradas fortemente na velocidade, nos desenvolvimentos tecnológicos do final do século XIX e na exaltação da guerra e da violência. Para Balla, “é mais belo um ferro elétrico que uma escultura”. Assim, os objetos não se esgotam no contorno aparente e nos aspectos mas na exaltação da tecnologio e na concretização da pesquisa do espaço bidimensional. O artista futurista não está interessado em pintar um automóvel, mas captar a forma plástica, a velocidade descrita por este no espaço e expressar o movimento real das figuras.
O Futurismo desenvolveu-se em todas as artes e influenciou diversos artistas e movimentos modernistas, sendo que tiveram grande repercussão no dadaísmo, no concretismo, na tipografia moderna, e no design gráfico pós-moderno.
Pintura Futurista
Na pintura futurista o uso de cores vivas e contrastes e a sobreposição das imagens pretendia dar a ideia de dinâmismo, deformação e não materialização. Procuravam expressar o movimento atual, ao registar a velocidade descrita pelas figuras em movimento no espaço. Para os artistas futuritas os objetos não se concluem no contorno aparente e no aspectos, interpenetram-se continuamente a um só tempo. Podemos concluir que as principais carateristas do futurismo na pintura foi a desvalorização da tradição e do moralismo, sendo glorificado o desenvolvimento da industrial e tecnologia, o uso de cores vivas e contrastes, juntamente com sobreposição de imagens, traços e pequenas deformações para passar a ideia de movimento e dinamismo. Em 1910 e 1911, o futurismo usou as técnicas do divisionismo, quebrou a luz e a cor, num campo de pontos. Os pintores futuristas adotaram os métodos cubistas, ao oferecer um meio de analisar a energia em pinturas e expressar dinamismo. Um dos principais artistas deste movimento foi Umberto Boccioni (1882-1916), um pintor e escultor italiano, conhecido por ter publicado o Manifesto Técnico da Pintura Futurista. As suas obras incorporou os conceitos de dinamismo e simultaneidade: formas e espaços que se movem ao mesmo tempo e em direções contrárias. O futurismo seria apenas uma das muitas vanguardas culturais que, na primeira metade do século XX, surgiram na Europa. Entre estes podemos identificar, para além do Futurismo, o Expressionismo, o Cubismo, o Dadaísmo ou o Surrealismo.
Escultura Futurista
Além da pintura, Umberto Boccioni foi inovador na escultura, interrupendo com a tradição de Rodin e dando uma nova forma dinâmica na linguagem tridimensional. Em 1912 e 1913, Boccioni produz esculturas para traduzir em três dimensões as suas ideias futuristas. Em Unique Forms of Continuity in Space (1913), denota-se a relação entre o objeto e o ambiente, central para sua teoria do "dinamismo", onde a figura avança determinada no espaço do espectador. Por volta de 1912, publicou o manifesto Escultura futurista, em que defendeu o dinamismo e a simultaneidade das formas. As suas esculturas ultrapassaram a questão do movimento absoluto para um movimento relativo, estabelecendo uma tensão e fusão da forma e do espaço, que se interpenetram. Realizou, ainda, experiências com materiais não tradicionais da escultura, justapondo e articulando vidro, madeira e couro, em trabalhos que chamou de polimaterici (polimatéricos). Nas suas esculturas, o movimento dinâmico de um corpo humano no espaço é estudado por Boccioni de forma intensiva.
Arquitetura Futurista
O arquiteto futurista Antonio Sant'Elia expressou suas ideias de modernidade nos seus desenhos para La Città Nuova (A cidade nova) (1912–1914). Este projeto influenciou as gerações posteriores de arquitetos e artistas, pois projetava o dinamismo da vida futurista. Na ideia dos futuristas a cidade, repleta da máquina eficiente e veloz, substituíu a paisagem como cenário para a excitante vida moderna. Curvas e incrustações barrocas foram removidas para revelar as linhas essenciais das formas e enfatizar a luz do espaço. Os arquitetos futuristas tiveram diversos conflitos com os Estado fascista que preferiam os padrões estéticos clássicos imperiais romanos. Mesmo assim foram construidos vários edifícios futuristas, entre as décadas de 1920-1940, incluindo edifícios públicos como estações ferroviárias, balneários marítimos e correios: estação ferroviária de Trento, construída por Angiolo Mazzoni e a estação Santa Maria Novella em Florença.
Futurismo em Portugal
Logo em 1909 o Manifesto de Marinetti, foi traduzido do Le Figaro no Diário dos Açores, mas passou despercebido. Em Março de 1912 Aquilino Ribeiro, numa crónica parisiense anuncia na revista Ilustração Portuguesa (11 de Março de 1912, pp.345,6,7) o movimento futurista aos Portugueses. Mas foi no número dois da Revista Orpheu, dirigida por Fernando Pessoa/Álvaro de Campos e Mário de Sá-Carneiro que o futurismo apareceu como movimento em Portugal. Foram os intelectuais portugueses que se encontravam em Paris, Mário de Sá-Carneiro e o pintor Guilherme Santa-Rita, que levaram este movimento para a frente. Em Abril de 1917, realizou-se um espectáculo “futurista”, desenvolvido por Almada Negreiros e Santa-Rita, no qual se leu “Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX” – no qual se declarava: “Eu não pertenço a nenhuma das gerações revolucionárias. Eu pertenço a uma geração construtiva. (…) É preciso criar a pátria portuguesa do século XX. O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem Portugueses, só vos faltam as qualidades”, adiantando ainda que, para cumprir este objectivo, seria necessário combater o romantismo, o saudosismo, o sentimentalismo sebastianista, o amadorismo e o derrotismo. Na poesia que surgiriam composições poéticas de cariz futurista, em particular, a “Ode Triunfal” e a “Ode Marítima”, de Fernando Pessoa; “Manucure”, de Mário de Sá-Carneiro e o “Manifesto Anti-Dantas”, de Almada Negreiros. Sucintamente, o futurismo português passou-se quase discretamente entre as duas revistas, Orpheu de 1915 e Portugal Futurista de 1917 (apreendido pelas autoridades), com emergências pontuais no Algarve, no inesperado suplemento futurista de O Heraldo de Faro, em 1916, e já na década de 20 em Coimbra.