A linguagem é um elemento estruturante da construção criativa de Yoko Ono
As ideias são o principal componente do seu trabalho, mais do que materiais. Algumas são transformadas em objetos, enquanto outras são poéticas e utópicas, refletindo consequentemente o sentido de humor da artista, bem como sua postura marcadamente socio-crítica. Yoko Ono teve um papel precursor no desenvolvimento do conceptualismo, da arte performativa e do filme experimental a nível internacional. Saiba mais sobre Yoko Ono neste artigo.
As atividades vanguardistas de Yoko Ono com o grupo de Fluxus
Yoko Ono nasceu em Tóquio em 1933, estudou filosofia na tradicional universidade Gakushuin, em Tóquio, sendo a primeira mulher neste departamento. Após acabar os estudos no Japão, decidiu mudar-se para Nova Iorque em 1953. No final desta década já estava integrada nas atividades vanguardistas nova-iorquinas, produzindo happenings com Marcel Duchamp e Philip Glass, que incluíram, por exemplo, performances da artista a atirar compota sobre telas. As suas primeiras obras conceptuais, surgiram na década de 1960, juntamente com uma série de performances radicais, com La Monte Young, no seu apartamento em Chambers Street. Os primeiros trabalhos de Yoko Ono tinham instruções que comunicavam com público de forma verbal ou escrita. Estas instruções, factíveis ou improváveis, muitas vezes contavam com a imaginação do leitor para completar o trabalho. Por vezes poéticas, humorísticas, inquietantes e idealistas, as primeiras peças de instrução de Ono anteciparam seus trabalhos posteriores. Em 1961, com o grupo vanguardista Fluxus, realiza a sua exposição e posteriormente, na lendária galeria de George Maciunas em Nova Iorque, AG Gallery, realizou uma exposição individual das suas Instructions Paintings (1961).
Yoko Ono: Pioneira na introdução do público nas obras de arte
Em 1962 regressou a Tóquio, apresentou no Sogetsu Art Center as Instructions Paintings e as performances que já tinha realizado em Nova Iorque. Em 1964, Ono apresentou em Quioto e Tóquio a performance Cut Piece e publicou Grapefruit, livro que reúne as instruções das suas peças conceptuais. Na performance Cut Piece, a artista sentou-se no centro da sala, ofereceu uma tesoura ao público para que este cortassem um pedaço de roupa. Yoko Ono foi pioneira na introdução do público nas obras de arte, tal como a artista sérvia Marina Abramovic concretizou posteriormente. Painting to Be Stepped On (1960-1961), por exemplo, convidava as pessoas a pisar num pedaço de tela colocado diretamente no chão, fisicamente ou mentalmente. Embora facilmente esquecido, o trabalho questionou radicalmente a divisão entre arte e quotidiano.
A relação entre arte e vida
Atualmente, Yoko Ono é amplamente reconhecida pelos seus filmes pioneiros, sendo estes considerados clássicos do século XX. Os primeiros filmes de Ono, também produzidos na década de 1960, refletem a sua forma de demonstrar de forma poética a relação entre arte e vida. Estes desafiam a noção tradicional de realização e estão envolvidos na cultura do filme independente. Em 1966 fez a primeira versão de Film No. 4 (Bottoms) e participou na instalação colaborativa The Stone, na Judson Gallery. No outono de 1966 foi convidada a fazer parte do simpósio “Destruction in Art” em Londres e também neste período apresentou uma série de concertos em Inglaterra. Em 1969, com John Lennon, apresentou Bed-in e produziu a campanha para a paz War Is Over! (if you want it).
Outra campanha que criou ligada à paz mundial, é IMAGINE PEACE, instalação permanente que criou em 2007 na Ilha Viðey. Yoko Ono viaja todos os anos para a Islândia para acender a sua IMAGINE PEACE TOWER. A artista desenvolve um papel significativo no contexto da intervenção política e social. As suas instalações consistem numa criação mental, desenvolvida através de uma investigação da artista do espaço arquitetónico como um vazio histórico. A artista também tem divulgado as suas preocupações ambientais, através de esculturas como Sky Machine (1966) e To See the Sky (2015), uma escada em caracol instalada sob uma clarabóia que os visitantes foram convidados a subir para contemplar o céu. Além de reconhecimento pelos seus filmes, também conseguiu noutras vertentes como na performance e na música — encontra-se na génese de muitas das formas musicais da new wave. Yoko Ono já expôs o seu trabalho por todo o mundo, incluindo grandes exposições itinerantes, bienais e trienais.
A História de John Lennon e Yoko Ono: "a mulher que acabou com os Beatles”
A história de amor de John Lennon e Yoko Ono tornou-se icônica, não somente pela tragédia e pela fama de John Lennon, mas também por tudo o que faziam em conjunto, a lua de mel para protestar contra a Guerra no Vietnã, os filmes e as músicas. Este foi um relacionamento pouco convencional, sendo que Yoko Ono, apesar do divorcio ainda hoje, vive no apartamento com vista ao Central Park de Nova York, em frente ao local onde o músico faleceu. Durante muitos anos, contou-se a história de Yoko Ono como só tinha surgido no mundo artístico, após conhecer John Lennon. Foi alvo de acusações tornadas lenda oficial – “a mulher que acabou com os Beatles” e que desencadeou um turbilhão de sentimentos, entre pulsões odiosas como misoginia e racismo, uma profunda incompreensão e a total ignorância quanto ao percurso de Yoko Ono.
“Longo era já o percurso de Yoko Ono quando se juntou a John Lennon, relação que amplificou o seu raio de acção enquanto, paradoxalmente, obscureceu a sua posição enquanto artista. Lennon descreveu-a certo dia como “a mais famosa artista desconhecida do mundo: toda a gente sabe o seu nome e ninguém sabe verdadeiramente o que ela faz”. Nele, Yoko encontrou um par, alguém que promovia uma relação absolutamente igualitária e que se motivava com as suas ideias e ambições. Com ele, ganhou também o palco ideal para expor a uma escala inaudita o seu desejo de esbater o mais possível as fronteiras entre arte e vida quotidiana, entre a obra de arte enquanto criação exclusiva do seu autor ou gesto que só se completa com a intervenção do outro (...) Quando criou com Lennon o emblemático Bed in pela paz em Amesterdão, 1969, happening feito acontecimento mediático feito happening, estava a aplicar precisamente os mesmos métodos e a mesma forma de acção que antes haviam ficado reservados a um meio artístico que considerava demasiado fechado sobre si mesmo. O mesmo testemunhámos, aliás, quando, inspirada pelo força transformadora e pelo impacto popular do rock’n’roll, criou com Lennon álbuns de música experimental como Two Virgins, ou quando a sua música a solo se viu referida como referência por bandas como os B’52s ou os Sonic Youth” — Mário Lopes em “Por fim, conseguimos ver apenas Yoko Ono”, Público.
O Percurso de Yoko Ono
Desde que surgiu na cena artística internacional no início dos anos 1960, Yoko Ono fez profundas contribuições para a arte visual, performance, cinema, música experimental, e influenciou o desenvolvimento internacional do grupo Fluxus e da arte conceitual. As colaborações de Yoko Ono com seu falecido marido, a lenda dos Beatles John Lennon, incluindo Bed-In (1969), um protesto antiguerra que comunicou corajosamente o seu compromisso com a justiça social, ficaram para sempre na nossa memória. Nunca confinou ao trabalho do espaço da galeria e continuou insistentemente a apresentar trabalhos de vanguarda, que promovem a paz mundial e transformam as barreiras entre arte, política e sociedade.Nos últimos anos, Yoko Ono abraçou as redes sociais como forma de comunicar as suas mensagens artísticas e ativistas a um público ainda mais amplo. Os seus trabalhos têm sido expostos no Museum of Modern Art em Nova Iorque, no MAXXI em Roma, na Faurschou Foundation de Nova Iorque, no Museu de Arte Contemporânea de Serralves no Porto, em Château La Coste na Provença de França, entre outros.