O pintor e professor Eurico Gonçalves, pioneiro na educação artística em Portugal, morreu durante a madrugada de domingo, com 90 anos, informou a família. Um dos nomes do surrealismo português, pioneiro na educação artística em Portugal, autor de uma estética pessoal baptizada como o Dadá-Zen, tinha mais de 70 de carreira.
Eurico Gonçalves nasceu em 1932 em Abragão (Penafiel). Reconhecido especialista no conhecimento da expressão plástica da criança, deu o nome à Escola Básica Eurico Gonçalves, no Lumiar, em Lisboa. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris e recebeu o Prémio Almada Negreiros em 1998. Em 2005 foi-lhe atribuído o Grande Prémio da XIII Bienal Internacional de Artes de Vila Nova de Cerveira, evento em que participara até então em todas as edições e cujo reconhecimento considerou, com humor e pragmatismo, “tardio” mas “especial”. Tinha então 73 anos e era fluente na expressão estética que tinha feito sua — “Dadá-Zen foi a designação criada por Eurico para relacionar o vitalismo dada e a atitude filosófica zen. Ambos propõem uma arte despreconceituada e espontânea, aberta à intervenção do acaso e à revelação dos dados imediatos do inconsciente”, escreve Dalila d'Alte Rodrigues na sua tese de doutoramento A obra de Eurico Gonçalves na perspectiva do surrealismo português e internacional. O grande prémio em Cerveira foi uma espécie de corolário das suas várias distinções: entre 1966 e 67 foi bolseiro da Fundação Gulbenkian em Paris, onde trabalhou com o pintor francês Jean Degottex e frequentou a Universidade de Sorbonne, onde teve como mestres Jean Francastel e René Huyghe, lê-se num seu currículo enviado às redacções. Em 1998 recebe o Prémio de Pintura Almada Negreiros.
Como artista plástico teve dezenas de exposições a título individual, entre as quais as realizadas na Galeria Presença, no Porto (1996), ou a antológica Estou vivo e escrevo Sol, 1949-2006 (2007) ou Dada-Zen/Pintura-Escrita (2010), bem como Eurico Gonçalves, Pintura Gestual, Informal e/ou Caligráfica de Inspiração Zen (2018). Entre as mostras colectivas, comissariou O Erotismo na Arte Moderna Portuguesa a convite de Cruzeiro Seixas, integrou a representação portuguesa na XVII Bienal Internacional de S. Paulo (1983) ou a Primeira Exposição do Surrealismo ou Não, comissariada por Mário Cesariny e Cruzeiro Seixas. Em 1972, prefaciou a importante exposição de Henri Michaux, na Galeria S. Mamede em Lisboa.
Além de ter feito crítica de arte para vários jornais e revistas portuguesas, assinou ainda os livros A Pintura das Crianças e Nós – Pais, Professores e Educadores (Porto Editora, 1976), A Arte Descobre a Criança (Raiz Editora, 1991), A Criança Descobre a Arte (Raiz Editora, 1991/93), Narrativas de Sonhos, Poemas e Textos Automáticos 1950/51 (Edições Prates, 1995), Dádá-Zen/Pintura-Escrita (Edições Quasi, 2005), e participou com O Erotismo na Arte Moderna Portuguesa na obra Sexologia em Portugal (Texto Editora, 1987).
Era especialista no conhecimento da expressão plástica da criança, descreve Dalila Rodrigues, que recorda que o artista deu nome à Escola Básica Eurico Gonçalves, em Lisboa. Eurico Gonçalves ficou conhecido por ser pintor, professor, crítico de arte e pioneiro no âmbito da educação artística em Portugal. A sua obra está representada nas colecções de algumas das mais importantes instituições portuguesas de arte — no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, no Museu Amadeo de Souza Cardoso, na Culturgest, no Museu do Chiado, no Centro de Estudos do Surrealismo - Fundação Cupertino de Miranda, entre outras instituições.